26
de maio de 2014 | N° 17808
L.F.
VERISSIMO
Inúteis
As
eleições para o parlamento europeu que aconteceram neste fim de semana foram um
plebiscito disfarçado sobre o futuro da Comunidade Europeia. Entre os
candidatos pedindo votos, há um forte e barulhento grupo – talvez uma maioria –
que é contra a comunidade, e, portanto, quer ser eleito para uma instituição
que pretende destruir.
As
razões para sabotar a União Europeia vão desde o nacionalismo emocional até a
reação da Europa do Norte ao atraso que representam as economias letárgicas da
Europa do Sul e a ameaça de admissão de mais países problemáticos à comunidade,
favorecendo a invasão de mão de obra barata do Leste. E passando pelo
ressentimento de muitos com o domínio da Alemanha de Merkel sobre todos. A
receita de frau Merkel para a saúde geral da comunidade é apfelstrudel,
apfelstrudel e não tem conversa.
Assim,
boicotada por dentro, a Comunidade Europeia caminha para ser outra Nações
Unidas, um monumento à inutilidade de uma boa ideia. As Nações Unidas também
nasceram como um projeto de congraçamento, para substituir as guerras pelo
debate e o embate irracional pela razão. É só lembrar de todos os conflitos que
acometeram o mundo desde que as Nações Unidas existem, sem que a organização
pudesse evitá-los ou condicionar a política de grandes potências, para
desesperar a humanidade.
A
ONU faz um trabalho valioso nas áreas da saúde e alimentação internacionais e
continua lá, no seu imponente prédio à beira do East River, mas, no seu propósito
principal, fracassou. A Comunidade Europeia também tem um vistoso parlamento,
em Bruxelas, simbolizando sua própria frustração. É difícil imaginar um
retrocesso radical e imediato do seu projeto de união – embora até a permanência
do euro, a moeda única de uma nação fictícia, longe de ser única, esteja sendo
posta em dúvida –, mas o resultado das eleições deste fim de semana pode muito
bem sinalizar o prelúdio de um suicídio.
EM
ALTA
A
televisão francesa não para de mostrar razões para ninguém ir ao Brasil, na
Copa ou em qualquer outro momento. Ao mesmo tempo, as agências de viagens não
param de vender pacotes para franceses irem à Copa. E a música do Brasil está em
alta como nunca em Paris, até em lugares inesperados. Três cantoras francesas e
uma guitarrista fizeram um show há dias no teatro Bouffes du Nord só de
compositores brasileiros, de Villa Lobos a Hermeto Pascoal e incluindo Tico-tico
no fubá.
Uma
cantora francesa chamada Malu le Prince está resgatando a obra injustamente
esquecida do Johnny Alf. E um show da Stacey Kent com um quarteto de cordas no
teatro Chatelet não só tinha uma maioria de canções do Tom Jobim e outros
brasileiros como acabou em batucada. Você acreditaria na Stacey Kent tocando
agogô?
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