Editorial ZH
10 de maio de 2014
Leite derramado
A indústria gaúcha do leite ficou
num brete depois da prisão de empresários que vinham aceitando e
comercializando produto contaminado por bicabornato, água oxigenada e soda. E o
Rio Grande do Sul tem todos os motivos para, como diz o ditado popular, chorar
o leite derramado, uma vez que o novo escândalo gera prejuízos irreparáveis para
toda a produção. Cabe, porém, distinguir aqueles que trabalham honestamente dos
fraudadores. E a população só terá certeza disso se houver uma ampla e
transparente exposição dos processos de controle que as empresas sérias
utilizam.
Entre os tantos aspectos
preocupantes da fraude envolvendo um alimento de primeira necessidade, chama a
atenção o fato de a adulteração persistir um ano depois da indignação provocada
pela denúncia de adição de água e ureia com formol por parte de transportadores
no noroeste do Estado.
A particularidade de as fraudes
terem deixado de ocorrer agora apenas no âmbito de intermediários,
estendendo-se também à indústria, mostra que, nesse tipo de caso, não bastam o
clamor popular e a reafirmação de punições rígidas para impor mais seriedade.
Há necessidade de ações mais firmes, de forma permanente.
No mais recente caso, resultante
da quinta etapa de investigações do Ministério Público Estadual, um dos
envolvidos foi condenado em 2006 pelo mesmo tipo de prática e, posteriormente,
absolvido em primeira instância. Trata-se, portanto, de profissionais
especializados em aumentar os ganhos fazendo o produto render mais em volume,
mediante a adição de água.
Ou, então, de mascarar a perda de
teor nutricional com o uso de ureia e formol. Ou, como se viu agora, até mesmo
de recorrer a produtos com potencial para provocar danos à saúde, como soda
cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada, com o objetivo de permitir o
aproveitamento de leite azedo sem maiores riscos de levantar suspeitas entre as
vítimas.
O consumidor não pode continuar
submetido a artimanhas perversas que demonstram o absoluto descaso com a
qualidade até mesmo em relação a um alimento essencial, principalmente para
crianças e adolescentes. O fato se torna ainda mais grave porque leite é um
item que, da produção à indústria, passa por vários intermediários,
dificultando a fiscalização direta.
Esse, portanto, é o momento de os
que atuam com seriedade na cadeia do leite avançarem na adoção de mecanismos
que impliquem maior transparência. Ainda assim, só não haverá razão para
temores se o setor público demonstrar que está permanentemente vigilante e
disposto a punir quem insiste em enganar a população.
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