13
de maio de 2014 | N° 17795
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Um elogio aos curiosos
Nem
humildade, nem ambição: curiosidade.
A
curiosidade é humildade e ambição ao mesmo tempo.
Na
curiosidade, temos humildade para aprender e ambição para não desistir de
buscar.
É uma
perfeita medida. Os estados de espírito terminam moderados, neutralizados.
A
curiosidade freia que a pessoa seja megalomaníaca e também inibe que seja uma
pobre coitada.
O
problema do humilde é que ele quer ser santo, o problema do ambicioso é que ele
quer ser rei. A curiosidade escapa desses dois extremos da ganância.
O
curioso é apenas curioso. Não pode ser mais do que curioso. Está protegido da
fama e da doença do excesso.
Ele é
um insistente, um incansável. Não fica reclamando, vai perguntando e correndo
atrás para descobrir o que falta.
Ele é
menor para que a vida se torne maior. Ele é discreto para que suas descobertas
produzam visibilidade.
Ele
faz perguntas idiotas para gerar respostas inteligentes.
Ele
não tem vergonha das suas dúvidas, sempre desconfia que tem mais a saber.
Ele
não mentirá (o mentiroso é um ansioso), já que prefere desvendar a verdade.
Ele é
independente, enfrenta a banalidade e a complexidade com desembaraço, acolhe o óbvio
e o abstrato com democrática simpatia.
Ele é
um interessado intenso. Não finge atenção, é atenção. Está satisfeito com tudo porque
completará com sua procura.
Não é
acomodado, é observador. Realiza seus desejos com espontaneidade. Como se
fossem naturais. Não é espalhafatoso em suas intenções. Conclui antes de
anunciar. Ao estudar sobre aviação, é capaz de voar. Ao estudar sobre orquídeas,
é capaz de cultivá-las.
Não
cria empecilhos para protelar nenhum sonho. Dispensa o esforço da desculpa pelo
entusiasmo da interrogação.
O
curioso jamais é ingrato. Se recebe um presente, será eufórico, ainda que seja
uma lembrança. É fácil de ser agradado. Não repete a mesma área, quer ir além.
Pode
ganhar um CD brega de amigo-secreto e irá ouvir com dedicação. Para um dia
dizer que ouviu. Para entender o motivo da breguice. Não fará a cena de deboche
e de engano que todos realizam quando não são correspondidos com sua idealização.
Não
joga nada fora, nenhuma pessoa. Conversa com igual atenção com o zelador, o
eletricista, o empresário, a manicure. Questiona sem parar modos diferentes de
conduta, tenta entender como aquela personalidade se formou, quais são suas
fragilidades e forças. Assim desarma seus preconceitos com respeito e
intimidade.
Não
será melhor do que o outro, pois sempre se melhora com o outro.
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