sábado, 31 de maio de 2014

01 de junho de 2014 | N° 17815
CÓDIGO DAVID | David Coimbra

Passeando de dindim em Gramado

Li que mil argelinos já compraram tíquetes para passear no dindim de Gramado durante a Copa. Você sabe o que é o dindim, aquele trenzinho

com vagões puxados por um pequeno trator. Criança adora andar de dindim. Por que será que os argelinos também gostam tanto, a ponto de fazerem mil reservas?

Uma hora dessas, eles devem estar ansiosos, lá na Argélia. Devem estar comentando com os amigos: – Vou ao Brasil, andar de dindim. Bacana.

O bom da Copa é isso, conhecer outras culturas. Os argelinos são africanos. Os nigerianos também, e também eles virão para cá. Os nigerianos são muito respeitados na África. Pela pujança da sua economia, sim, mas sobretudo por outro fator: os homens nigerianos gozam da fama de serem bem dotados anatomicamente, se é que você me entende.

Você dirá que os africanos  em geral já desfrutam dessa boa imagem. Certo.

Só que os nigerianos são invejados pelos outros africanos! Imagine, agora, o que é um nigeriano perto de, por exemplo, um japonês.

Na Copa de 2010, os sul-africanos a toda hora vinham falar dos nigerianos. Olha lá os nigerianos, apontavam. Olha lá. Existem máfias de nigerianos na África do Sul. Eles são temidos. Ficam em grupos pelas ruas de Joanesburgo, vestindo chapelões, mascando chicletes, enfeitados com braceletes e correntes de ouro.

Se você passar por perto e eles te chamarem: – Hey, bro! Saia correndo. Um perigo, os nigerianos. Mas não se aflija. Os nigerianos que vierem para cá não serão perigosos. Serão, provavelmente, nigerianos ricos. Mesmo assim, lembre-se de duas coisas: 1. Um nigeriano é sempre um nigeriano, com todos os seus atributos.

2. Aquilo que as mulheres vivem repetindo, “tamanho não é documento”, aquilo é mentira. E provo. Um dia, um repórter metido a espirituoso resolveu provocar Ava Gardner e perguntou, referindo-se a Frank Sinatra: – O que você quer com aquele magricela de 55 quilos?

Ava fitou-o com seu melhor olhar blasé amendoado e respondeu: – Cinco quilos são só de “dick”.

Parabéns, Frank. Ruy Castro conta não ter sido à toa que Garrincha nasceu em Pau Grande. E as mulheres não fugiam dele... Aliás, Garrincha não tinha ascendência africana. Era índio fulniô, das Alagoas.

Uns índios pacíficos, não como esses que deram flechadas nos policiais de Brasília. Índios brabos de verdade eram os ferocíssimos goitacases. Eles tinham um método temerário de caçar tubarões: o goitacás mergulhava armado apenas de um pedaço de pau. Quando via um tubarão, investia de frente contra ele.

O tubarão, óbvio, tentava mordê-lo e o índio metia-lhe o galho verticalmente na bocarra. O tubarão, assim, não conseguia mais fechar a boca. O guerreiro aproveitava-se para enfiar o braço goela adentro do bicho e, com a mão nua, arrancar-lhe o coração. Isso que é índio, não esses que andam de cocar e calção Adidas, falando ao celular!

Sobre índios brasileiros, por sinal, eles são conhecidos em outro país que virá a Porto Alegre: a Coreia do Sul. Na Copa de 2002, poucos brasileiros foram à distante Coreia do Sul.

Mas havia um grupo que seguia o Brasil por toda parte, uns caras fantasiados de índios. Eles saíam pelas ruas vestidos com penas, o rosto pintado, soprando apitos, batendo tambores. Os coreanos olhavam meio assustados para aquilo. Um dia, eu estava com jornalistas coreanos em um shopping e o grupo esse chegou, fazendo grande alarido. Um jornalista coreano arregalou os olhos: – É assim no – Não, não, por favor...

Esses são apenas torcedores. O Brasil é um país moderno... Se o coreano lê as notícias sobre o Brasil,

deve estar me chamando de mentiroso. Temos que dar um jeito de pacificar esses índios. Acabaram as contas de vidro? A Coreia do Sul é um país circunspecto.

Nada a ver com aquele Psy, o cantor. Os coreanos se orgulham de seus filhos estudiosos e de seus banheiros públicos limpíssimos. Banheiros, por Deus.

Dizem os coreanos que um dos seus banheiros públicos é o mais limpo do mundo. Visitei-o e, realmente, é um primor. Lembrou-me uma faxineira que tinha. Uma faxineira pelada. Sério.

Ela fazia faxina no meu apartamento às segundas. Uma tarde, por algum motivo, tive de passar em casa mais cedo. Entrei e ouvi o barulho de água correndo no banheiro. Fui ver o que era. Era ela, limpando o box.

Nua. Era uma faxineira meio gorda e muito branca. Estava de costas para a porta, de quatro, esfregando o chão com fúria higiênica. Aquela visão me fez estremecer. Recuei, para que ela não percebesse a minha presença. Saí de mansinho e corri até o bar da frente.


Pedi um bourbon para me recuperar. Nunca mais voltei para casa sem ligar antes. Agora, tenho de reconhecer: aquela faxineira sabia limpar um banheiro. Devia ser de ascendência coreana. Coreanos, nigerianos, argelinos. Porto Alegre terá a oportunidade de conhecer esses povos e tantos outros mais. Não é uma beleza? Só um conselho: mantenham suas mulheres longe dos nigerianos. Cuidado com os nigerianos!

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