01 de junho de 2014 | N°
17815
CÓDIGO DAVID | David
Coimbra
Passeando de dindim em Gramado
Li que mil argelinos já compraram
tíquetes para passear no dindim de Gramado durante a Copa. Você sabe o que é o
dindim, aquele trenzinho
com vagões puxados por um pequeno
trator. Criança adora andar de dindim. Por que será que os argelinos também
gostam tanto, a ponto de fazerem mil reservas?
Uma hora dessas, eles devem estar
ansiosos, lá na Argélia. Devem estar comentando com os amigos: – Vou ao Brasil,
andar de dindim. Bacana.
O bom da Copa é isso, conhecer
outras culturas. Os argelinos são africanos. Os nigerianos também, e também
eles virão para cá. Os nigerianos são muito respeitados na África. Pela pujança
da sua economia, sim, mas sobretudo por outro fator: os homens nigerianos gozam
da fama de serem bem dotados anatomicamente, se é que você me entende.
Você dirá que os africanos em geral já desfrutam dessa boa imagem.
Certo.
Só que os nigerianos são
invejados pelos outros africanos! Imagine, agora, o que é um nigeriano perto
de, por exemplo, um japonês.
Na Copa de 2010, os sul-africanos
a toda hora vinham falar dos nigerianos. Olha lá os nigerianos, apontavam. Olha
lá. Existem máfias de nigerianos na África do Sul. Eles são temidos. Ficam em
grupos pelas ruas de Joanesburgo, vestindo chapelões, mascando chicletes,
enfeitados com braceletes e correntes de ouro.
Se você passar por perto e eles
te chamarem: – Hey, bro! Saia correndo. Um perigo, os nigerianos. Mas não se
aflija. Os nigerianos que vierem para cá não serão perigosos. Serão,
provavelmente, nigerianos ricos. Mesmo assim, lembre-se de duas coisas: 1. Um
nigeriano é sempre um nigeriano, com todos os seus atributos.
2. Aquilo que as mulheres vivem
repetindo, “tamanho não é documento”, aquilo é mentira. E provo. Um dia, um
repórter metido a espirituoso resolveu provocar Ava Gardner e perguntou,
referindo-se a Frank Sinatra: – O que você quer com aquele magricela de 55
quilos?
Ava fitou-o com seu melhor olhar
blasé amendoado e respondeu: – Cinco quilos são só de “dick”.
Parabéns, Frank. Ruy Castro conta
não ter sido à toa que Garrincha nasceu em Pau Grande. E as mulheres não fugiam
dele... Aliás, Garrincha não tinha ascendência africana. Era índio fulniô, das
Alagoas.
Uns índios pacíficos, não como
esses que deram flechadas nos policiais de Brasília. Índios brabos de verdade
eram os ferocíssimos goitacases. Eles tinham um método temerário de caçar
tubarões: o goitacás mergulhava armado apenas de um pedaço de pau. Quando via
um tubarão, investia de frente contra ele.
O tubarão, óbvio, tentava
mordê-lo e o índio metia-lhe o galho verticalmente na bocarra. O tubarão,
assim, não conseguia mais fechar a boca. O guerreiro aproveitava-se para enfiar
o braço goela adentro do bicho e, com a mão nua, arrancar-lhe o coração. Isso
que é índio, não esses que andam de cocar e calção Adidas, falando ao celular!
Sobre índios brasileiros, por
sinal, eles são conhecidos em outro país que virá a Porto Alegre: a Coreia do
Sul. Na Copa de 2002, poucos brasileiros foram à distante Coreia do Sul.
Mas havia um grupo que seguia o
Brasil por toda parte, uns caras fantasiados de índios. Eles saíam pelas ruas
vestidos com penas, o rosto pintado, soprando apitos, batendo tambores. Os
coreanos olhavam meio assustados para aquilo. Um dia, eu estava com jornalistas
coreanos em um shopping e o grupo esse chegou, fazendo grande alarido. Um
jornalista coreano arregalou os olhos: – É assim no – Não, não, por favor...
Esses são apenas torcedores. O
Brasil é um país moderno... Se o coreano lê as notícias sobre o Brasil,
deve estar me chamando de
mentiroso. Temos que dar um jeito de pacificar esses índios. Acabaram as contas
de vidro? A Coreia do Sul é um país circunspecto.
Nada a ver com aquele Psy, o
cantor. Os coreanos se orgulham de seus filhos estudiosos e de seus banheiros
públicos limpíssimos. Banheiros, por Deus.
Dizem os coreanos que um dos seus
banheiros públicos é o mais limpo do mundo. Visitei-o e, realmente, é um
primor. Lembrou-me uma faxineira que tinha. Uma faxineira pelada. Sério.
Ela fazia faxina no meu
apartamento às segundas. Uma tarde, por algum motivo, tive de passar em casa
mais cedo. Entrei e ouvi o barulho de água correndo no banheiro. Fui ver o que
era. Era ela, limpando o box.
Nua. Era uma faxineira meio gorda
e muito branca. Estava de costas para a porta, de quatro, esfregando o chão com
fúria higiênica. Aquela visão me fez estremecer. Recuei, para que ela não
percebesse a minha presença. Saí de mansinho e corri até o bar da frente.
Pedi um bourbon para me
recuperar. Nunca mais voltei para casa sem ligar antes. Agora, tenho de
reconhecer: aquela faxineira sabia limpar um banheiro. Devia ser de ascendência
coreana. Coreanos, nigerianos, argelinos. Porto Alegre terá a oportunidade de
conhecer esses povos e tantos outros mais. Não é uma beleza? Só um conselho:
mantenham suas mulheres longe dos nigerianos. Cuidado com os nigerianos!
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