ELIO GASPARI
A lição da doutora Wasmália
A presidente do IBGE deu uma aula ao
comissariado e à oposição: a vida é arte, errar faz parte
Com uma simples frase, a presidente do IBGE,
Wasmália Bivar, resgatou o prestígio da instituição e ofereceu uma aula aos
doutores que se apresentam como salvadores da pátria. Três semanas depois da
eclosão de uma crise provocada pelo adiamento de uma pesquisa, voltou atrás e,
perguntada pelo repórter Pedro Soares se as críticas influíram na decisão,
disse o seguinte:
"Eu não vou dizer para você que não teve
nenhuma influência, seria bobagem."
A canção diz que "a vida é arte, errar faz
parte", mas tanto o comissariado petista como seus adversários cultivam a
soberba da infalibilidade. Quanto mais erram, mais persistem na dissimulação ou
mesmo no erro.
Descobre-se que o programa do PSB do doutor
Eduardo Campos defende a "socialização dos meios de produção" e ele
se justifica dizendo que esse texto é um eco do programa de 1947. Nesse ano o
candidato a presidente não havia nascido. Nada custava dizer que "seria
bobagem" manter a proposta. Afinal, programa de partido ninguém lê e, se
lê, perde tempo. Se lê e acredita, cretiniza-se.
O último texto programático dos candidatos
Eduardo Campos e Marina Silva é um cartapácio indigesto de 14.500 palavras.
Ganha uma viagem a Londres, onde está o túmulo de Karl Marx, ou a San
Francisco, onde foram jogadas as cinzas do economista conservador Milton
Friedman, quem for capaz de decifrá-lo.
O PT e o PSDB ainda não digeriram as denúncias
de seus mensalões. Num caso, os acusados já estão na Papuda. No outro, o
deputado Eduardo Azevedo renunciou ao mandato para fugir da lâmina do Supremo
Tribunal Federal. Os notáveis tucanos mantiveram-no por algum tempo na presidência
do partido. Admitir o erro e voltar atrás nas práticas, nem pensar.
Cartel da Alstom, Pasadena, refinaria Abreu e
Lima e Alberto Youssef, para ficar em poucos nomes, são todos casos em que os
hierarcas da política defendem suas criações até o último momento. Admitir o
erro, só às vezes, quando já foram apanhados pelo Ministério Público ou pelas
algemas da Polícia Federal. Até lá, a culpa é da imprensa.
A doutora Dilma, Eduardo Campos e Aécio Neves
poderiam olhar para a biografia de Angela Merkel. Ela era um quadro
inexpressivo do seu partido, protegida pelo primeiro-ministro Helmut Kohl, um
gigante da política europeia do século passado, unificador da Alemanha contra a
vontade da Rússia e dos Estados Unidos. Ele a chamava de "minha
menina". Kohl foi apanhado num lance de caixa dois, e a doutora Merkel
escreveu um artigo pedindo sua renúncia. Deu no que deu. Limpo, seu partido já
venceu três eleições.
A doutora Wasmália atravessou a crise do IBGE
sem que seus críticos atacassem sua honorabilidade profissional ou a
integridade da instituição. O mesmo não se pode dizer da conduta do mesmo IBGE
e da Fundação Getulio Vargas nos anos 70, quando se deixaram fazer de bobos no
cálculo do índice da inflação e um dos conselheiros da FGV (Eugênio Gudin)
confidenciava que o ministro Delfim Netto era "diabólico".
O embuste da inflação de 1973 só foi
desmascarado anos depois num documento do Banco Mundial, desencavado por Paulo
Francis, graças ao barulho que a imprensa fez com ele. Antes, como hoje, a
culpa foi da imprensa.
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