segunda-feira, 12 de maio de 2014


12 de maio de 2014 | N° 17794
L.F. VERISSIMO

Murais

No Grand Palais, o espaço de arte de maior prestígio em Paris, foi inaugurada a exposição dos dois murais, “Guerra e Paz”, que Cândido Portinari fez para o interior do prédio das Nações Unidas, em Nova York. Antes de serem doados à ONU, em 1956, os grandes painéis foram exibidos no Brasil, e agora chegam a Paris no início da fase internacional de um projeto de exposição, fora da área restrita do foyer da ONU, que começou com outra turnê pelo Brasil e terminará com sua volta a Nova York em 2015.

A obra de Portinari está magnificamente apresentada no Grand Palais, junto com estudos preparatórios para os murais e outros trabalhos do artista, e a solenidade teve a presença do filho de Portinari – que morou durante muito tempo em Paris –, do embaixador do Brasil na França, Bustani, da Marta Suplicy e de outros responsáveis pelo projeto, além de dezenas de brasileiros e simpatizantes orgulhosos.

Ninguém mencionou que Portinari não pôde comparecer à inauguração dos seus murais na ONU em 1956 porque era comunista, e os americanos não deixaram ele entrar no país. Me lembrei da história do mural que Nelson Rockefeller encomendou ao mexicano Diego Rivera para o saguão de entrada do Rockefeller Center em Nova York . O mural deveria retratar o avanço da Humanidade através do trabalho e do progresso científico. Rivera foi o escolhido porque era um dos pintores favoritos da mãe de Nelson Rockefeller, que obviamente não informou ao filho quais eram as convicções políticas do mexicano.

Pode-se imaginar a cara do Nelson ao ver, no mural pronto, o Lenin de mãos dadas com trabalhadores, simbolizando a união que emanciparia o proletariado mundial da opressão capitalista. Rockefeller pagou ao Rivera, mas mandou pôr abaixo o mural. Não adiantou a oferta do pintor de incluir Abraham Lincoln como emancipador, talvez ao lado de Lenin. O mural foi destruído. Antes da sua destruição,Rivera pediu que o fotografassem.

E o reproduziu no México, acrescentando alguns detalhes que não estavam na primeira versão. Como Marx e Trotsky, além de Lenin. E – para completar a vingança – o pai de Nelson, John D. Rockefeller, um notório abstêmio, é retratado como um bêbado, simbolizando a dissolução moral dos ricos.


Nelson Rockefeller não desistiu do seu mural. Contratou um tal de José Maria Sert para pintá-lo. O mural continua lá, na entrada do Rockefeller Center. A sua figura principal é o Abraham Lincoln.

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