KENNETH
MAXWELL
Brasil bipolar
O "Financial Times", em
um editorial intitulado "A olímpica tristeza da Copa no Brasil",
começa afirmando: "Pobre Dilma Rousseff. A presidente do Brasil projeta a
tediosa aura de eficiência de Angela Merkel, mas fala como se fosse os irmãos
Marx". Mais adiante, acrescenta que "o país precisa de um choque de
credibilidade. Se Rousseff não conseguir promovê-lo, a eleição presidencial de
outubro o fará".
O clichê ao menos tem o mérito de
representar com precisão o sentimento atual dos mercados financeiros de
Londres. "Determinar se Rousseff, com seu jeito de Merkel e oratória dos
irmãos Marx, é de fato a pessoa certa para recolocar o Brasil nos trilhos é assunto
diferente", prosseguia o editorial do jornal britânico. "Afinal, seu
primeiro mandato foi uma decepção". Diante de comentários como esse, o que
poderiam acrescentar os candidatos de oposição, Aécio (e Serra) ou Campos e
Marina?
Por outro lado, o megainvestidor
americano Warren Buffett indicou que estava preparando novas negociações com o
3G Capital, fundo de capital dos bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann,
Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. No ano passado, Buffett se associou ao
trio para comprar a H.J. Heinz por US$ 23,3 bilhões. "É muito provável que
nos associemos de novo a eles em algumas coisas de porte muito grande",
disse na assembleia de acionistas da Berkshire Hathaway, em Omaha, no Estado de
Nebraska (EUA). A nova aquisição pode ter valor de US$ 58 bilhões.
Mas como interpretar esse
distúrbio maníaco-depressivo de opinião sobre o Brasil? Lemann é hoje o homem
mais rico do país, com fortuna avaliada em US$ 21,7 bilhões. Ele foi um dos
criadores do banco Garantia, vendido ao Credit Suisse First Boston em 1998 por
US$ 675 milhões. Em 2004, engendrou a fusão de sua companhia de cerveja AmBev
com a Interbrew, da Bélgica. Em 2008, a empresa criada pela fusão pagou US$ 52
bilhões para adquirir a cervejaria americana Anheuser-Busch. Em 2010, ele
adquiriu o Burger King por US$ 3,3 bilhões.
Lemann preza por sua privacidade
e não concede entrevistas. Mas delineou suas visões sobre negócios e
filantropia sobre sua experiência como estudante em Harvard em discurso recente
no Insper, escola dirigida por Claudio Haddad, seu colega no Garantia.
Falou sobre os anos em Harvard,
onde fez a graduação e aprendeu sobre o poder da meritocracia. O segredo,
disse, era encorajar jovens talentos e pensar a longo prazo. É o que ele faz em
seus negócios e atividades filantrópicas. Mas Lemann também foi surfista na
juventude, no Rio, e tenista em Wimbledon. Ele recordou ter surfado uma onda
gigante em Copacabana. Disse, rindo, que encarar riscos também era essencial
para o sucesso.
KENNETH MAXWELL escreve
às quintas-feiras nesta coluna.
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