quinta-feira, 8 de maio de 2014

KENNETH MAXWELL

Brasil bipolar

O "Financial Times", em um editorial intitulado "A olímpica tristeza da Copa no Brasil", começa afirmando: "Pobre Dilma Rousseff. A presidente do Brasil projeta a tediosa aura de eficiência de Angela Merkel, mas fala como se fosse os irmãos Marx". Mais adiante, acrescenta que "o país precisa de um choque de credibilidade. Se Rousseff não conseguir promovê-lo, a eleição presidencial de outubro o fará".

O clichê ao menos tem o mérito de representar com precisão o sentimento atual dos mercados financeiros de Londres. "Determinar se Rousseff, com seu jeito de Merkel e oratória dos irmãos Marx, é de fato a pessoa certa para recolocar o Brasil nos trilhos é assunto diferente", prosseguia o editorial do jornal britânico. "Afinal, seu primeiro mandato foi uma decepção". Diante de comentários como esse, o que poderiam acrescentar os candidatos de oposição, Aécio (e Serra) ou Campos e Marina?

Por outro lado, o megainvestidor americano Warren Buffett indicou que estava preparando novas negociações com o 3G Capital, fundo de capital dos bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. No ano passado, Buffett se associou ao trio para comprar a H.J. Heinz por US$ 23,3 bilhões. "É muito provável que nos associemos de novo a eles em algumas coisas de porte muito grande", disse na assembleia de acionistas da Berkshire Hathaway, em Omaha, no Estado de Nebraska (EUA). A nova aquisição pode ter valor de US$ 58 bilhões.

Mas como interpretar esse distúrbio maníaco-depressivo de opinião sobre o Brasil? Lemann é hoje o homem mais rico do país, com fortuna avaliada em US$ 21,7 bilhões. Ele foi um dos criadores do banco Garantia, vendido ao Credit Suisse First Boston em 1998 por US$ 675 milhões. Em 2004, engendrou a fusão de sua companhia de cerveja AmBev com a Interbrew, da Bélgica. Em 2008, a empresa criada pela fusão pagou US$ 52 bilhões para adquirir a cervejaria americana Anheuser-Busch. Em 2010, ele adquiriu o Burger King por US$ 3,3 bilhões.

Lemann preza por sua privacidade e não concede entrevistas. Mas delineou suas visões sobre negócios e filantropia sobre sua experiência como estudante em Harvard em discurso recente no Insper, escola dirigida por Claudio Haddad, seu colega no Garantia.

Falou sobre os anos em Harvard, onde fez a graduação e aprendeu sobre o poder da meritocracia. O segredo, disse, era encorajar jovens talentos e pensar a longo prazo. É o que ele faz em seus negócios e atividades filantrópicas. Mas Lemann também foi surfista na juventude, no Rio, e tenista em Wimbledon. Ele recordou ter surfado uma onda gigante em Copacabana. Disse, rindo, que encarar riscos também era essencial para o sucesso.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

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