19
de maio de 2014 | N° 17801
ARTIGO
- Paulo Brossard*
13 DE MAIO
Ao
prefaciar o livro de Osório Duque Estrada sobre a abolição, Rui Barbosa
assinalou que o abolicionismo foi a mais expressiva corrente de opinião entre
nós formada.
Saliente-se
que à liberdade seguiu-se abandono dos alforriados e o grosso da antiga
população escrava tomou o freio nos dentes e se esparramou; foram muitos os
dizimados pela doença, vício da bebida, a vadiagem; contudo, boa parte
permaneceu próximo a seus antigos senhores, exercendo ofícios particularmente
manuais, padeiro, ferreiro, pintor, mecânico, da mesma forma que as mulheres
passaram a cozinheiras, doceiras, bordadeiras, lavadeiras, estas com enormes
trouxas à cabeça, equilibradas e seguras, vencendo distâncias a passo lépido;
de modo especial, tiveram a atração de regiões dedicadas à produção de açúcar,
cacau, café, charque, ou extração de minérios.
Em
pouco tempo, criou-se camada de profissionais, de servidores públicos
inclusive, que contribuiu para a formação de componente social distinto,
importante para o país.
E o
tempo se encarregou de aprimorar a convivência entre o antigo escravo e o seu
senhor; cresceu o número de professores, negros ou pardos, inclusive os de
nível superior e lentes de faculdades. Nota-se, por exemplo, que quando a
música popular lançou “ó nega do cabelo duro, qual é o pente que te
penteia...”, brancos e pretos cantaram e dançaram sem que a lei a isso os
obrigasse ou distinguisse.
A
meu juízo, o ciclo iniciado com a extinção do trabalho servil se processou de
maneira progressiva, até chegar ao ponto atual, inacabado, mas definitivo. A
mim chama a atenção o deliberado esquecimento do 13 de maio, que não ocorreu
nem por acaso, nem sem esforços de mais de uma geração. Perdoem-me os que,
silenciando, pretendem substituí-lo pelo dia da consciência negra, pois é uma
injustiça em relação aos que lutaram até conseguir a abolição da escravatura.
Foi a maior reforma social havida no Brasil.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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