Editorial ZH
09 de maio de 2014
Antepenúltimo em educação
Brasil continua distante dos
países que, sem o nosso potencial econômico, transformaram a educação em ganhos
sociais e prosperidade. Relatório produzido por duas conceituadas empresas
britânicas _ a Pearson, ligada ao Financial Times, e a consultoria Economist
Inteligence Unit _ confirma uma realidade que estigmatiza, compromete o futuro
de gerações e degrada a imagem brasileira no mundo.
No estudo, que define um ranking
internacional, o Brasil está na 38ª posição numa lista de 40 nações analisadas
pela proficiência em matemática, ciências e leitura, somada a taxas de
alfabetização e índices de aprovação escolar. O irônico é que nesta segunda
edição do levantamento o Brasil passou da penúltima para a antepenúltima
posição, mas apenas porque o México apresentou queda maior e ficou junto com a
Indonésia, a última colocada.
Para um país que vem se
apresentando como potência emergente, é uma posição mais do que constrangedora,
é ultrajante. Como enfatizam os responsáveis pelo relatório, nenhum país será
evoluído se não conseguir traduzir seus avanços em indicadores educacionais.
Foi o que afirmou Michael Barber, chefe de Educação da Pearson, ao ressaltar
que os governos de todo o mundo são permanentemente pressionados a melhorar a
aprendizagem, porque isso significa o sucesso das pessoas, das comunidades e de
um país.
Parece tão óbvio, mas não o
suficiente para mobilizar políticas públicas e recursos que transformem a
educação no Brasil, como ocorreu especialmente nos países asiáticos. São os
povos da Ásia os que mais evoluíram nos últimos anos em educação, liderando o
ranking. Não é à toa que, a partir da vigorosa opção pela qualificação do
ensino, as nações do continente melhoraram produtividade e ganhos de renda e
qualidade de vida.
Os líderes fazem com que
performance econômica e educação sejam convergentes, para que o crescimento
seja duradouro. No Brasil do antepenúltimo lugar, o aprendizado formal do
ensino básico vem sendo desprezado por sucessivos governos _ União, Estados e
municípios. Contribuem para esse cenário as redes pública e privada, e não se
pode ignorar a omissão da própria sociedade.
É particularmente preocupante o
fato de que, além da deficiência em leitura, os brasileiros se submetam a um
ensino precário de ciência e matemática por falta de professores e pela falta
de habilitação de profissionais dessa área.
A tradução dessa constatação é a
de que os docentes são mal preparados e mal pagos e têm reduzidas chances de
aperfeiçoamento, por sobrecarga de trabalho e por desalento.
O retrato do Brasil no ranking é,
lamentavelmente, o de um país em que todos são enganados por um sistema que
democratizou o acesso ao ensino, com a inclusão escolar assegurada pela
Constituição, mas descuidou da qualidade do aprendizado. Nações mais modestas
economicamente provaram que este é um desafio que pode, sim, ser vencido num curto
espaço de tempo.
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