terça-feira, 13 de maio de 2014


13 de maio de 2014 | N° 17795
DAVID COIMBRA

NÓS, OS ADOLESCENTES

Porto Alegre é uma cidade de chatos. Na verdade, o Brasil inteiro tornou-se um país de chatos, porque se tornou um país triste. O senso de humor está em falta do Acre a Jaguarão, mas, em alguns casos, a deficiência é grave de morte. Ecologistas, defensores de animais, ciclistas, torcedores de futebol, feministas, moralistas e antipetistas são um porre insuportável. São os que juram ter “uma luta” na vida. São os vigilantes da opinião.

Opinião? O que importa opinião? Vou dizer qual é a minha opinião: sou a favor de legalizar as drogas, a prostituição e o aborto; sou contra a pena de morte e o porte de armas; sou a favor da extinção do Senado e dos pitbulls; sou a favor do voto facultativo; sou contra a eleição para diretores de escolas; acho obsoleta a exigência de diploma para jornalistas e acho que uma mulher pode dançar nua, pode se vestir provocantemente, pode até se insinuar sexualmente, sem que um homem tenha direito de, por isso, molestá-la.

Pronto. Despejei acima um pacote de opiniões. E que importância tem isso?

Nenhuma.

Se você acha que tem, você não sabe nada, nada, nada!, como gritou uma vez o Caetano Veloso para a plateia de estudantes que o vaiava por discordar do tropicalismo.

Opiniões você pode comprar a quilo no Facebook da esquina. Muito mais importante é o que você sente em relação aos fatos e como você se comporta em relação às pessoas.

Os brasileiros em geral e os porto-alegrenses em especial não conseguem sair da adolescência. Ser contra tudo e contestar tudo, ter uma opinião e se agarrar a ela como um afogado se agarra ao tronco que passa flutuando, acreditar que o mundo é composto por bons de um lado e maus de outro, essas atitudes são muito saudáveis e até desejáveis em certa etapa da vida. O jovem, para se emancipar psicologicamente, precisa “matar o pai”, como ensinou Freud. E a sociedade necessita desta renovação, deste choque, deste contraponto de gerações, se é que você acredita em evolução dialética.

Certo.

O problema é quando aquela euforia juvenil corresponde ao auge da vida do indivíduo e ele se recusa a sair de lá. Conheço gente que ficou congelada nos 20 anos de idade e que vai morrer assim. Não se trata de eterna juventude; trata-se de eterna imaturidade.

E aí está o Brasil, cheio de cidadãos com muita opinião e nenhuma ponderação. O resultado é o que se vê: cada um puxando para um lado, sem jamais avançar para lado algum.

Agora o Brasil está prestes a sediar a Copa do Mundo e, graças aos chatos que grassam por todo o território nacional, também está prestes a cometer um fiasco histórico. Uma Copa não é apenas um campeonato de futebol; é o maior evento internacional do planeta. Lula foi um visionário quando pleiteou a Copa de 2014 para o Brasil. Ah, foi culpa dele o aumento do número de sedes de oito para 12 e foi culpa dele a gastança obscena de dinheiro público. Foi. Foi mesmo.


Mas, ainda assim, a Copa é algo que pode ser muito bom para o Brasil. Ou péssimo, dependendo do comportamento dos brasileiros. Até hoje está sendo horrível graças à falta de logística, à falta de seriedade, à falta de planejamento, à falta de bom senso típicos de uma sociedade mal resolvida. Pode ser ainda pior, se os brasileiros insistirem em promover molecagens diante das câmeras de TV do mundo. É uma pena. É triste ver um país inteiro fazendo papel de ridículo. É vergonhoso descobrir que, em alguns casos, o sofrimento não ajuda a amadurecer.

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