15
de maio de 2014 | N° 17797
EDITORIAL
ZH
CONTRA O PAÍS
Setores
que tentam parar serviços básicos em meio aos protestos não boicotam a Copa,
mas o Brasil
Opaís
assiste ao esforço do governo federal no sentido de assegurar as condições
mínimas ao êxito da Copa do Mundo, em meio a ameaças de radicalização dos
protestos e do prenúncio de greves nos serviços públicos. Como afirmou ontem o
ministro Aldo Rebelo, do Esporte, ao comentar as manifestações, é preciso
reconhecer o legítimo direito de reivindicação de categorias profissionais. Mas
que se estabeleça, ao mesmo tempo, a clara distinção entre apelos específicos
de servidores, de um lado, e de outro as articulações oportunistas feitas às
vésperas do evento.
O
que essas últimas buscam é unicamente tumultuar um evento que atrai as atenções
do mundo para o Brasil. Não há como justificar atitudes muitas vezes abusivas
ou violentas no contexto de críticas explicitadas com civilidade por setores
que se opõem à realização do Mundial.
Professores,
policiais militares, bombeiros, rodoviários e outras categorias já vêm se
mobilizando, em vários Estados, em paralisações que ocorrem a poucos dias da
abertura da Copa. Em muitos casos, fica evidente a relação entre as greves, a
retórica de suas lideranças e o propósito de constranger governantes.
Fomenta-se uma tentativa de confusão, que mistura posições críticas bem
fundamentadas a um deliberado esforço de boicote ao evento.
É
natural que expressivo contingente de brasileiros se manifeste contra gastos
públicos na Copa e reclame maior transparência na aplicação dos recursos.
tende-se igualmente que acontecimentos com essa dimensão provoquem reações de
contrariedade, pelos mais variados motivos, por não serem percebidos como
prioridade. Mas é inconcebível que, em nome de discordâncias ideológicas e
políticas camufladas em atos sindicais, a grande maioria seja perturbada pelas
vozes do derrotismo.
A
própria sociedade saberá avaliar a índole de parte dos envolvidos em
manifestações públicas, como as anunciadas para esta quinta-feira nas
cidades-sede. O que mais preocupa, no entanto, no momento é a abordagem
preventiva de uma questão prática, de curto prazo, igualmente ameaçadora. É o
risco concreto de paralisação de categorias que congregam cerca de 500 mil
servidores, que o próprio governo subestimou ao não estabelecer garantias
mínimas, apoiadas na legislação, de funcionamento de serviços essenciais
durante a Copa.
É
preocupante que policiais federais, auditores da Receita e servidores do INSS
considerem a possibilidade de parar no período dos jogos. A Copa sempre foi, em
todos os países que a sediaram, um momento excepcional e assim deve ser
tratada. Eventuais vantagens dos que conspiram contra a festa terão sido
obtidas por minorias, em relação ao desejo maior de êxito do Brasil como
anfitrião do Mundial. Este desejo, e não o dos que pretendem tornar o país
refém de suas atitudes, é o que deve prevalecer.
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