ELIANE CANTANHÊDE
Revisitando Robin Hood
BRASÍLIA - Em campanhas e em construção de imagem, não se
trabalha com o concreto e sim com o abstrato, o imaginário coletivo.
Vem daí, para não ficar tão perto nem ir tão longe, a ficção
do "caçador de marajás" que elegeu Collor herói nacional e presidente.
Aécio Neves e Eduardo Campos fazem campanha em cima de dados
reais, surfando nos erros e nas quedas em pesquisas da própria Dilma e do
próprio PT. Mas não têm marca.
Enquanto isso, o pronunciamento de Dilma (ou de João
Santana?) deixa cristalinamente claro como eles armam o seu jogo: uma disputa
entre o "bem" e o "mal".
O "bem", encarnado por Dilma, faz promessas,
distribui bondades, cuida da classe C, privilegia os desfavorecidos. Sua pauta
é "o povo já", danem-se o baixo crescimento, a inflação alta, esse
tal de ajuste fiscal. Quem dá bola para essas chatices? Só a "elite"
e a mídia.
O "mal", que a propaganda define e os companheiros
disseminam, está em Aécio e em Campos, desdobrando-se para agradar o capital
estrangeiro, os grandes bancos, as corporações, o agronegócio --que "só
pensam em sugar as riquezas nacionais, com o povo na miséria".
Esses capitalistas "ingratos", como diria Lula,
viraram do "bem" na sua era --e nunca lucraram tanto. Mas voltam a
ser do "mal" se ousarem ficar contra Dilma.
Toda a torcida canarinho sabe que 2015 será de "ajustes
impopulares" e de um choque de industrialização, nos dois casos para
corrigir os erros de Dilma e levar o país a crescer --não para agradar o
capital e sim para beneficiar os brasileiros.
A presidente, porém, "faz o diabo" para empurrar
Aécio e Campos para uma encruzilhada: ou entram na onda populista para serem do
"bem", ou assumem compromissos responsáveis e viram do
"mal", demonizados pelo "sincericídio".
No fim, ganha quem vestir melhor a fantasia robinhoodiana de
dar aos pobres. Mas sem tirar dos ricos...
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