Fabrício Carpinejar
10-05-2014 às 17h00
Seja homem para terminar
Se vai se separar, não arrume
desculpas ou evasivas.
Não tente colocar a culpa no
outro para ainda se sair como vítima.
Não transfira sua decisão, muito
menos queira repartir a culpa.
Não fique cavando erros para sair
ileso e diminuir sua pena.
Não procure aliviar a dor com
eufemismos.
Não torture com falsas promessas
para ganhar tempo, não sustente planos conjuntos.
Não escolha o melhor dia para
evitar conflitos. Não há melhor dia para se despedir. Todo dia é ruim. Todo dia
é triste.
Não diga “eu te amo” por
convenção, como se fosse um cumprimento, para despistar o que já definiu em
segredo.
Não perdure cobranças se já não
deseja mais nada.
Não discuta por horas a fio por
um preciosismo ou um deslize se não tem paciência.
Não imponha sua vontade se não
tem vontade.
Não banque o tirano, o ditador,
para encobrir o crime do desamor.
Não conte aos amigos o que sente
se não conta antes para sua companhia.
Não mergulhe na omissão sob a
alegação de que ela não vai entender.
Não pense por ela, não fale por
ela, não está mais conectado para traduzir o que ela deseja.
Não faça fiado com o silêncio,
não faça empréstimo com as lembranças, não invente de pagar as palavras com
juros.
Seja direto, didático, claro.
Que encontre a coragem da
simplicidade. A confusão neste momento gera covardia.
Sem teorias, sem defesa, sem
chantagem, sem adiamentos.
Exponha que não ama mais ou o que
está envolvido com uma nova pessoa ou que não tem mais interesse.
Mas assuma o ponto final, não finja
que é uma vírgula.
Metade dos traumas da separação é
que alguém saiu sem explicar o motivo.
Metade dos traumas do divórcio é
que alguém ficou com aquele medo preguiçoso de transparecer o fim.
E quem é deixado para trás passa
o resto dos dias buscando entender o que aconteceu, remoendo o desfecho,
carregando o ressentimento de que havia como continuar e inventando motivos.
Não dê trabalho de ressurreição a
quem dividiu a vida com você, dê a verdadeira causa do óbito.
É uma injustiça sumir, desaparecer,
virar as costas.
O coração é um cartório.
Tem que reconhecer firma. Na
entrada e na saída de qualquer relacionamento.
Caso foi homem para declarar o
amor, tem que ser homem para encerrar o amor.
Caso foi homem para começar o
amor, tem que ser homem para terminar o amor.
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