24
de maio de 2014 | N° 17806
CLÁUDIA
LAITANO
Se nada der
certo
Alunos
do terceiro ano do Ensino Médio de escolas do Brasil todo, Porto Alegre
inclusive, instituíram em seu calendário festivo, já há algum tempo, o chamado
dia do “se nada der certo”. Trata-se de uma espécie de festa à fantasia
temática em que meninos e meninas, às vésperas de escolher uma profissão,
incorporam o estilo de vida oposto ao que desejariam encontrar no futuro. O
garoto que vai fazer vestibular para Administração, por exemplo, pode se vestir
de estátua viva ou de vendedor de incensos.
Já a
menina que pretende cursar Artes Cênicas pode se imaginar em traje de executiva
preenchendo uma planilha de Excel ou traçando o business plan de uma startup.
(Há ainda os skatistas que se vestem de skatistas, porque, quando nada dá
certo, aí é que muita gente aproveita para fazer o que realmente quer.)
Faço
parte do grande contingente de pessoas que trocou de curso depois de entrar na
faculdade. Errei convicta, porém. No primeiro dia de aula no Departamento de
Psicologia da UFRGS, não havia nenhum aluno mais entusiasmado do que eu na sala
de aula. Eu tinha 17 anos e nenhuma dúvida de que havia feito a escolha certa.
Como uma noiva ingênua subindo ao altar com o primeiro namorado, nem me passava
pela cabeça a ideia de que a profissão que eu havia escolhido com tanta
convicção aos 15 poderia não ser exatamente aquela em que eu gostaria de estar
aos 30.
Três
anos depois do vestibular, percebi que talvez o Jornalismo estivesse mais
próximo do que eu queria, mas quase desisti de trocar de curso porque me
convenci de que estava velha demais para começar tudo de novo – ideia que algum
adulto sensato teve a gentileza de me alertar a tempo de que não fazia sentido.
Como muitas outras pessoas que trocaram de área, porém, adoro minha escolha que
não deu certo e valorizo muito tudo aquilo que provavelmente não teria
aprendido se tivesse acertado logo de primeira no curso.
O
que geralmente não se sabe, aos 17 anos, é que o “nada deu certo” não é uma
circunstância concreta, como trabalhar em algo que não se gosta ou não ter
dinheiro para pagar o aluguel, mas o resultado subjetivo de uma conta que cada
um faz analisando a própria trajetória. Erros e acertos, avanços e recuos nem
sempre somam ou diminuem pontos como se imagina.
Quanta
liberdade ou realização pode haver em atividades que a maioria das pessoas em
volta acha de pouco valor? Quanto sofrimento ou frustração naquilo que parece o
retrato mais acabado da felicidade? No fim das contas, o “tudo deu certo” de
uns pode ser exatamente igual ao “tudo deu errado” de outros.
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