Jaime
Cimenti
Amor, reencontro, coragem, traição e
amizade no Líbano
Os
desorientados, do jornalista e escritor libanês Amin Maalouf, nascido em 1949 e
desde 1976 refugiado em Paris por causa da guerra civil no Líbano, é desses
romances que deixam marcas indeléveis nos leitores. Maalouf já publicou
diversos livros, entre os quais O mundo em desajuste, publicado no Brasil pela
Difel. Membro da Academia Francesa desde 2011, quando assumiu a cadeira de
Claude Lévi-Strauss, Maalfou é detentor de muitos prêmios, entre eles o
importantíssimo Goncourt, na França, e o Príncipe de Astúrias, pelo conjunto da
obra.
Os
desorientados expõe, com minúcias, delicadeza e perspicácia, os sentimentos, as
mentes e os corações dos exilados e daqueles que, embora tenham permanecido no
Líbano, foram excluídos em sua própria pátria. A narrativa traz personagens que
se originaram da memória do escritor e mostra as questões culturais e as
consequências altamente negativas que a guerra provocou num país que era “a Suíça
do Oriente Médio”. Os conflitos são, infelizmente, semelhantes aos que assolam
outros países por décadas.
O
romance se inicia com o abrupto telefonema recebido por Adam, em Paris, na
madrugada, dando conta que seu amigo Mourad estava morrendo no Líbano e que
desejava vê-lo. Fazia 25 anos que não se encontravam. Adam tinha se tornado
historiador renomado na França e perdera contato com seus amigos libaneses, que
se dispersaram pelo mundo.
Mesmo
brigado com o velho amigo, Adam compra imediatamente a passagem aérea e decide
ver, pela última vez, o companheiro de juventude. Em meio às cerimônias de
enterro de Mourad surge a ideia de reunir os amigos para rememorar a melhor época
de suas vidas, quando tinham sonhos palpáveis e ideias em comum. Questões de
amor, reencontro, coragem, traição, amizade e conflitos causados pela brutal
guerra civil são apresentados por Maalouf com sabedoria, clareza e sutileza,
sem apelar para a comiseração fácil. Até o momento, poucas obras abordaram as
questões da guerra e da carnificina ocorrida no Líbano.
Amin
Malalouf aproveitou os muitos anos de estudo e a serenidade que lhe
proporcionou a meia-idade e, mesmo sentindo-se, depois de 25 anos fora, um
estrangeiro em seu país, colocou em ficção seu pungente recado. Seu recado, claro,
envolve os percursos, as lágrimas e os sorrisos de seus companheiros de geração
que, como ele, foram sobreviver no estrangeiro. Bertrand Brasil, tradução de Clóvis
Marques, 490 páginas, R$ 58,00, mdireto@record.com.br.
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