Jaime
Cimenti
Uma história de horror
existencial
O
romance Antes que eu queime é a estreia literária no Brasil do consagrado escritor
norueguês Gaute Heivoll, nascido em Sorlandet, em 1978, e autor de dez obras
envolvendo poesia, literatura infantil e romances. Gaute foi publicado, pela
primeira, vez em 2002. A
terrível história de Antes que eu queime trata de uma série de incêndios
criminosos numa pequena localidade, Finsland, no Sul da Noruega.
Todos
temem descobrir que o incendiário seja um vizinho, um amigo ou um conhecido. A
obra deu a Gaute reconhecimento internacional, foi aclamada e premiada em toda
a Europa e mereceu os prestigiados prêmios Brageprisen e o Sorlandets
Literaturpris, na Noruega. O romance está sendo considerado uma das obras mais
instigantes da literatura escandinava contemporânea.
A
obra parte de um ponto de vista inusitado. Em 1978, diversos incêndios começam
a atingir o pequeno vilarejo de Finsland e logo a polícia descobre que um
incendiário criminoso está à solta. O medo se instaura entre os moradores da
região, que sabem que o bandido pode estar próximo, inclusive na casa ao lado. Nessa
atmosfera de tensão e alta turbulência, na antes pacata cidadezinha, cresceu um
menino, que foi elogiado por sua professora pelo talento especial que tinha
para a escrita. Muitos anos depois, o menino se torna escritor, justamente para
narrar a vida do calmo vilarejo que ardeu em meio às estranhas chamas.
A
história dos incêndios se mistura aos primeiros meses de vida do autor e
atingiu o ponto culminante na noite após o seu batismo. O estilo da narrativa é
sóbrio, contido, com frases, parágrafos e capítulos curtos, mas, ao mesmo
tempo, é um estilo extremamente vigoroso, com narrações e descrições precisas e
ritmo adequado a uma história de horror existencial.
Em
meio às paisagens ora verdes, ora nevadas, a vida do autor e o noticiário
policial do final da década de setenta, na Noruega, se misturam e são narrados,
com muita habilidade, numa pungente de vida, onde há, principalmente, reflexões
sobre o ofício da escrita e a fragilidade da palavra. Na verdade, o próprio ato
de escrever ocupa o primeiro plano do romance, com suas fantasias, suas obsessões
e com a milenar necessidade de contar do ser humano. L&PM Editores, 256 páginas,
tradução do norueguês de Guilherme da Silva Barga, R$ 42,00, www.lpm.com.br.
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