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sexta-feira, 6 de abril de 2012
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Uma nova dinâmica da economia
A reação dos consumidores tem sido a de pagar suas dívidas atrasadas e só depois voltar às compras
O analista neste início de ano tem que estar aberto para uma nova dinâmica da economia brasileira. Se não entender as novas forças que estão agindo sobre os mercados, corre o risco de errar em suas previsões.
Uma primeira lição que precisa ser aprendida é que hoje o Brasil segue de perto a dinâmica de economias de mercado mais estáveis e, portanto, dotadas de uma racionalidade própria. Livre dos choques inesperados que ocorriam no passado, o comportamento das variáveis macro e micro é mais fácil de ser entendido.
Vou tratar hoje de um dos elementos mais importantes que visualizo nessa nova economia em nosso querido país: o comportamento do consumo das famílias, que é como o IBGE trata essa questão.
O consumo é hoje a força mais importante na formação do PIB no Brasil. Ele representa quase dois terços da demanda final contra 20% dos gastos do governo e 18% dos investimentos. O consumo é função de duas variáveis principais: renda real das famílias representada pela massa total de salários e crédito bancário. Vou mais longe nessa minha descrição: o consumo é hoje também influenciado pelo pagamento de dívidas das pessoas junto ao sistema bancário.
Essa variável ganhou importância nos últimos anos com a expansão do crédito às pessoas físicas. Segundo o Banco Central, o brasileiro gasta em média pouco mais de 20% de sua renda mensal com juros e amortizações de suas dívidas junto a bancos, cartões de crédito e cerca de 3% a 4% com outros compromissos com a compra de bens.
Essa maior alavancagem financeira faz com que as variações da renda real, gerada pela flutuação da inflação, tenham um impacto muito grande -muito maior do que em passado recente- nos gastos correntes da população e, portanto, na formação do PIB.
Vejamos o que aconteceu no segundo trimestre do ano passado, quando um choque de mais de 30% nos preços das commodities nos mercados internacionais chegou ao consumidor. O IPCA em 12 meses passou de 5,2% em outubro de 2010 para 7,3% em setembro de 2011, chegando a 5,2% em março de 2012.
Um ciclo de 12 meses na alta e de 6 meses na volta ao ponto de partida. A variação das taxas mensais foi maior ainda nesse mesmo período: em setembro de 2010 a inflação mensal era de 0,45% e chegou a 0,80% entre janeiro e abril de 2011, voltando a 0,21% agora em março.
A elevação brusca e inesperada da inflação fez com que o valor real dos salários despencasse e colocou o consumidor em dificuldade para honrar seus compromissos. Nessa situação, o consumo sofreu e a inadimplência junto aos bancos aumentou. O BC reagiu a esse pulo na inflação aumentando os juros, o que agravou ainda mais a situação do devedor. Finalmente -no último, mas previsível capítulo dessa história-, os bancos reduziram seu apetite para emprestar.
Nos meses seguintes o consumidor parou de gastar, principalmente em itens de maior valor, e aumentou sua poupança para normalizar sua situação junto a seus credores.
No Brasil de hoje, é muito difícil a vida do devedor inadimplente com todos os registros de seus atrasos circulando entre seus credores. O impacto sobre o crescimento demorou um pouco, mas chegou na segunda metade do ano passado.
Agora estamos vivendo o ciclo contrário. A inflação caiu -em março ela foi de apenas 0,21%-, os salários reais aumentaram e o dinheiro no fim do mês voltou a sobrar. A reação dos consumidores tem sido a de pagar suas dívidas atrasadas e só depois voltar às compras. Mas isso vai acontecer certamente nos próximos meses. Também os bancos vão mudar de comportamento e, com a queda da inadimplência que estará ocorrendo, vão voltar a emprestar ao consumidor.
O último capítulo dessa história vai trazer novo vigor nos investimentos das empresas, fazendo com que todos os motores que empurram o PIB estejam de volta ainda nos últimos meses do ano. Por essa razão, acredito que em 2013 as previsões sempre tão otimistas do ministro da Fazenda possam finalmente se realizar. E mais uma vez ficará claro para todos que um crescimento maior no Brasil ficará sempre dependente de inflação mais baixa.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 69, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). Escreve às sextas-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.
lcmb2@terra.com.br
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