sábado, 14 de novembro de 2020


14 DE NOVEMBRO DE 2020
CLAUDIA TAJES

Abrindo o voto 

Domingo eu vou votar em uma mulher. Em duas, considerando-se a vereadora. As três candidatas à prefeitura têm a minha admiração e o meu coração. O voto - que a essa altura interessa bem mais que o meu pobre coração - está decididíssimo. Já a escolha da vereadora foi mais difícil, as boas candidatas, engajadas, sérias, dispostas a trabalhar pela cidade, sem jeitinhos e sem maneirismos de outros carnavais, são muitas. Não posso dar os nomes aqui por questões éticas, mas são muitas as possibilidades. Periga meu dedo volúvel ainda mudar de ideia na última hora. Queria todas na Câmara.

Antes que eu pareça anticandidaturas masculinas, quero deixar claro que não é isso. Alguns dos candidatos a vereador também têm meu coraçãozinho. O voto é que, dessa vez, vai para uma guria. Estamos precisando de representatividade, meu povo. A divisão entre homens e mulheres nas câmaras e assembleias é muito desigual. Aí entra em votação um projeto que privilegia os de sempre e é aprovado por uma ampla vantagem pelos de sempre. Acredito - mesmo - que mais mulheres eleitas podem desequilibrar os interesses e demais conchavos que a gente já cansou de ver. Não qualquer mulher, óbvio. De umas e outras, velhas conhecidas da política ou eternas postulantes a qua§lquer cargo, passo bem longe.

É um exemplo um tanto fora do assunto, mas no fim de semana passado, no jogo entre Fluminense e Grêmio pelo Brasileirão, deu para se ter uma ideia da diferença de postura entre mulheres e homens no comando. Em geral as mulheres são bandeirinhas, nem sei se alguma já ficou no controverso cantinho do VAR. Pois no domingo passado o apito foi da Edina Batista, considerada a maior árbitra do futebol brasileiro. Que esteve em campo sem dar chilique, sem piti, discreta, eficiente, quase perfeita. Poderia, quem sabe, ter puxado um ou outro cartão nas patadas e voadoras mais vistosas, que não foram tantas assim. Até os jogadores pareciam mais calmos. Ao final os dois técnicos foram cumprimentá-la. É possível que fosse tudo diferente se o jogo ficasse tenso, mas aí é que está. A Edina não deixou a coisa fugir ao controle dela.

Também impressiona a carreira da juíza. Já era bandeirinha Fifa, mas queria apitar. Teve que recomeçar em jogos de divisões inferiores e subir aos poucos até virar árbitra Fifa. Com esse foco todo, só podia se sair bem.

Mudando de novo de saco para mala, estamos precisando de mais mulheres em outros campos tradicionalmente masculinos, como os tribunais, a defensoria, o Ministério Público. Agora que o julgamento - ou melhor, a condenação - da Mari Ferrer está disponível na íntegra no YouTube, é de se perguntar se uma juíza não interromperia os ataques do advogado e cidadão de bem Gastãozinho. Se fosse uma defensora pública, ficaria calada enquanto a cliente era violentada mais uma vez? Não consegui assistir ao vídeo todo. Meu estômago é sensível. Isso sem falar no lamentável depoimento do ex-acusado, agora inocente aos olhos da lei. Grande e musculoso, ele contou como foi assediado pela menina, e praticamente obrigado a levá-la para o quartinho onde, em poucos minutos, resolveu a questão. Será que também é rápido assim quando o sexo é consensual? Se for, clínica Alfa Men nele.

Para encurtar o causo, que acabou-se o prazo. Vote em mulheres para a Prefeitura e a Câmara de Porto Alegre - e de todos os lugares. Uma cidade com mais mulheres decidindo, pode crer, tem tudo para se tornar mais acolhedora e melhor de se viver.

CLAUDIA TAJES

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