09 DE NOVEMBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
OS DESAFIOS DA DEMOCRACIA
Craquelada pela radicalização e pelo questionamento de alguns dos seus princípios e ferramentas basilares, a democracia, para sobreviver, precisa urgentemente ser reinventada. O conceito que nasceu na Grécia, cinco séculos antes de Cristo, enfrenta, atualmente, desafios à espera de respostas ainda não descobertas. O impasse da representatividade se apresenta como ponto nevrálgico desse desgaste. Uma das explicações para o enfraquecimento dos partidos políticos é o advento das redes sociais e, com elas, a reverberação de vozes individuais e a formatação de grupos com motivações e interesses hipercapilarizados. Com isso, as siglas que povoam o cenário político nacional viram sua relevância ser rapidamente desidratada.
Esse fenômeno tem aspectos positivos, como a democratização da fala e o arejamento das ideias. Mas, por outro lado, a proliferação de bolhas amalgamadas por identidades monolíticas e pela repulsa ao diferente abriu fendas profundas no sistema que antes se equilibrava justamente sobre os pesos e os contrapesos de visões e de opiniões divergentes. Há de se destacar também, nesse processo, a incapacidade das agremiações partidárias e dos políticos de perceberem as mudanças e reagirem de forma positiva a elas. Em vez de movimento, vê-se uma paralisia gerada pela acomodação ou pela ferrugem ética e funcional de muitas dessas engrenagens nascidas como portadoras de utopias e de promessas de um mundo melhor.
Existem hoje 33 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas, de fato, eles pouco e a poucos representam. Esse novo momento exige que liberdade de expressão não seja confundida, muitas vezes maliciosamente, com o vale tudo que impera nas redes sociais e nos grupos de conversas virtuais, descomprometidos do balizamento ético e legal que configura, antes de tudo, uma proteção necessária ao cidadão e à sociedade. Já espocam aqui e ali reações positivas de governos, de instituições sociais, de empresas ou de cidadãos, cientes de que o estabelecimento de normas de conduta transparentes não é instrumento autoritário, mas justamente o seu oposto. Precisamos, urgentemente, avançar.
O voto, para tal, continua sendo uma ferramenta insubstituível. Obrigatório ou não, presencial ou remoto, mas sempre a expressão de uma vontade de futuro e de responsabilidade na construção do amanhã. É nesse ponto que o individual e o coletivo se demonstram inseparáveis. São dimensões complementares de uma mesma coisa. A busca por novos modelos de representatividade não é, portanto, sinal de falência da democracia, mas sim da sua imprescindível vitalidade, que tem na liberdade um alicerce que precisa, sempre, de cuidado e de reforço.
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