A cidade das pétalas

Porto Alegre é uma cidade bem-assombrada e nós, os humanos, é que somos os seus fantasmas passageiros. Os verdadeiros habitantes desta metrópole são as árvores frondosas e coloridas que se espalham por ruas, avenidas e praças, gritando seu protagonismo nestes dias de primavera. Agora mesmo, enquanto homens e mulheres disputam o ilusório poder de comandar seus semelhantes, as árvores da capital gaúcha - indiferentes ao duelo de interesses e vaidades - chovem pétalas sobre as calçadas como se quisessem mostrar que os caminhos da vida são de todos e podem ser belos e perfumados.

Confesso que não sei diferenciar um jacarandá de uma canafístula, mas esta ignorância botânica não me faz apreciar menos a aquarela da nossa floresta urbana. Tenho até uma invejinha suave daquele pichador anônimo que escreve o nome dos vegetais ao longo da Avenida Ipiranga, na tentativa de dar-lhes a identidade que a maioria dos porto-alegrenses desconhece. Me conformo em simplesmente admirá-los, pois gosto de andar distraído pela cidade e ser surpreendido, por exemplo, pela visão de um estonteante buquê de flores lilases, se me permitem o plural cumulativo. Ou brancas, ou amarelas, ou vermelhas, ou de alguma outra cor que nem sequer consigo definir. Todas são deslumbrantes.

Espero que os futuros governantes desta cidade dos nossos andares tenham sensibilidade para preservar e ampliar essa riqueza vegetal que tanto nos orgulha. Aqui, como sabem os mais sábios, começou o movimento ambientalista nacional com aquele estudante que se pendurou numa tipuana ameaçada pela construção de um viaduto. Aqui, ainda recentemente, cidadãos comuns e defensores da natureza uniram-se para evitar o abate de um guapuruvu que, por uma dessas distrações da natureza, deixou cair um de seus ramos sobre um carro.

Essas causas, senhoras e senhores futuros governantes, não têm cores partidárias. São de todos os porto-alegrenses, nativos e adotivos, que amam ver a cidade tingida por pétalas multicoloridas lançadas por algumas de suas 173 espécies arbóreas reconhecidas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente.

Por favor, comprometam-se com o cuidado dessas senhoras de vestidos floridos que nos protegem com seus guarda-sóis verdes.

NÍLSON SOUZA

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