O PAPEL DE CADA UM
O paternalismo é uma das maiores pragas a corromper a saúde do sistema político nacional. A distorção começa no tom messiânico adotado por muitos candidatos durante as campanhas, ganha contornos mais nítidos com a compra de votos e se consagra, definitivamente, com a adoção de práticas populistas pelas gestões, com altos custos ao erário público e, repetidas vezes, com resultados práticos pífios do ponto de vista da eficiência dos investimentos.
É notório que governos, sejam eles federais, estaduais ou municipais, concentram doses gigantescas de recursos e de poder, tantas vezes empregado para sufocar a liberdade dos indivíduos e das empresas. Não se trata aqui da defesa de um modelo anárquico, e sim da imposição de limites ao papel do Estado, justamente para que ele possa ser eficiente nas áreas em que é necessário.
Para avançar, é preciso corrigir distorções. No Brasil, ainda confundimos representatividade com delegação plena. Uma vez pressionada a tecla "confirma" na urna eletrônica, sucede-se um fenômeno altamente nocivo à saúde democrática. Massivamente, os eleitores entendem que seu dever está cumprido. De fato, não deveria ser assim. Insistir na obrigatoriedade do voto é absolutamente inócuo se ele não for encarado como um compromisso individual de participação constante.
Falta-nos ainda avançar na percepção de que governos nada fazem sozinhos. Nesse contexto, chama atenção como, na cultura brasileira, o primeiro reflexo diante de uma má conduta, tanto no serviço público quanto na iniciativa privada, é automaticamente atribuí-la à falta de fiscalização, como se a ausência dela desobrigasse o indivíduo de cultivar posturas éticas e legalmente ajustadas. Os políticos nos quais votaremos no próximo final de semana nos representarão, mas jamais nos substituirão. Seus erros e desvios têm, em geral, tamanho inversamente proporcional à participação dos cidadãos nas pressões e nos processos que impactam a vida de cada um e de todos.
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