sábado, 14 de novembro de 2020


14 DE NOVEMBRO DE 2020
FABRO STEIBEL

FACEBOOK DO B 

A eleição norte-americana deu voz a uma nova rede social, o MeWe. O MeWe virou o segundo aplicativo mais baixado nos Estados Unidos, atraindo o público em busca de teorias de conspiração, fraude eleitoral e informação falsa sobre o "vírus chinês". O MeWe é o terceiro aplicativo que cresceu com essa demanda apenas em 2020. Falamos muito em regular as redes sociais para combater a desinformação, mas o que acontecerá se a "inovação" do futuro for pior do que o que temos hoje? Eis o desafio de pensar que o novo é sempre melhor.

Quanto mais estudamos as gigantes da tecnologia, mais compreendemos que elas tendem ao gigantismo. Ser grande ajuda. E, motivado por isso, países se dedicam a limitar esse crescimento desenfreado. Recentemente, a China restringiu a abertura de capital da gigante Ant; os Estados Unidos processaram o Google; a União Europeia chamou diversas conversas para regular as big techs. Só que o que entendemos com esse movimento é que o problema não é o tamanho, e sim a contribuição dessas empresas para com o interesse público.

Veja o caso dos partidos políticos. Há democracias que possuem dois partidos, como o Reino Unido, e outras que possuem partidos diversos, casos de Brasil e Itália. O que queremos dos partidos? Que sejam representativos dos anseios da população. O que não queremos? Que operem pela lógica de cartel, aumentando o próprio fundo eleitoral, criando limites para controle externo, sufocando a oxigenação das novas lideranças.

No Brasil, o PC do B nasceu de uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro, a Aliança foi proposta recentemente com desistentes do PSL e o PSDB incluiu vários desertores do PMDB. Nos Estados Unidos, onde há dois partidos gigantes, há facções intrapartidárias, o que explica porque nem todo democrata apoia Joe Biden, e nem todo Republicano gosta de Donald Trump. O tamanho ou a origem dos partidos importa menos do que a contribuição que eles têm dado para o debate.

O mesmo vale para empresas de tecnologia. O que buscamos são formas de avançar no interesse público. Podemos regular investindo em infraestrutura, como a Austrália faz ao criar redes sociais com notícias verificadas, o Brasil, que lançou o Pix para pagamentos, e a Estônia, que oferece identidade digital gratuita para todos. Podemos ainda restringir a lógica de cartel e garantir que o uso de dados e outras vantagens competitivas possam ser compartilhados de modo saudável entre todos, como fazemos ao investir em processos de open banking.

O que devemos evitar é rotular que toda grande empresa é, por definição, ruim. É possível ficar pior que está. Uma nova rede social que promova desinformação é grave, um aplicativo de comida que sufoque pequenos negócios é péssimo, uma plataforma de logística que impeça o trabalho digno é desastroso. Eis onde deve recair nossa preocupação. Mas o gigantismo não é o problema, ele pode inclusive ser a solução. Tudo depende de qual é o problema a ser resolvido.

FABRO STEIBEL

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