sábado, 14 de novembro de 2020


14 DE NOVEMBRO DE 2020
BRUNA LOMBARDI

QUEM NÃO CONCORDA TÁ ERRADO 

Você é dos que acham que existem dois tipos de pessoas no mundo, as que concordam com você e as que estão completamente erradas?

Quando se vive de certezas absolutas, fica difícil escutar o que o outro tem a dizer. Fica impossível mudar de ideia, fica completamente fora de questão reconhecer que se está errado e dar razão pro outro. E por aí vão os mais variados tipos de comportamentos, que convergem e se resumem a um só: eu estou certo e qualquer um que não concordar comigo está errado e ponto final.

Quando somos inflexíveis, tudo dentro de nós endurece e se torna rígido. Por mais que você acredite que só você tem a verdade, saiba que a razão aprisiona também.

Todo fluxo de energia vital dentro do seu organismo se altera com esse tipo de atitude. Você não deixa a energia fluir. Você perde a visão abrangente dos fatos e fica estagnado, imutável. Você impede que sua mente absorva novas ideias, influências, informações.

O bloqueio que você criou é uma muralha, uma fortaleza dentro de você, e ninguém pode transpassar. Você automaticamente se desconecta de quem discorda de você e ignora tudo o que difere de sua convicção. Você destrói as pontes que conectam e constrói muros que separam. E as muralhas se fecham em volta de você e formam as grades da sua própria prisão.

O seu maior algoz é o seu próprio ego, o orgulho que o impede de quebrar essas paredes e se libertar.

Alguém inflexível não é capaz de se adaptar. Não consegue lidar com mudanças, imprevistos e nada que questione o que ele defende. Essa rigidez e intolerância são pesos que impossibilitam o avanço, a evolução.

Muita gente age assim por uma falsa ideia de segurança. Por repetir comportamentos sem repensar, argumentos sem rever novos valores. Pelo medo de perder o controle das coisas. Mas nenhum de nós está no controle de nada. E esses tempos estão nos mostrando isso com muita clareza.

Só a flexibilidade traz leveza, como o bambu, que não quebra com a ventania. Quem melhor se adapta é quem melhor sobrevive.

Brigar com a vida é criar permanente antagonismo e conflito. Certezas absolutas irremovíveis criam polarizações, ódios acirrados e nos colocam uns contra os outros. Esse mecanismo acontece em qualquer escala. Entre países, ideologias, religiões, torcidas, famílias, amigos e até mesmo entre um casal. É a raiz de todas as brigas e de todos os rompimentos.

Desde criança, quando via uma briga ou discussão acalorada, eu imaginava uma cena assim: num estalo de dedos, as duas pessoas paravam e durante 10 minutos trocavam de papeis. Uma teria que defender com a mesma veemência o que a outra vinha defendendo e vice-versa. Durante uma pequena trégua, elas tinham que trocar de pontos de vista. A verdade absoluta de uma passaria a ser a verdade absoluta da outra.

E somente assim, nessa troca de posicionamento, uma poderia entender profundamente a outra. Lembro que cheguei a sugerir isso para os meus pais, que continuaram brigando, sem dar a menor importância à minha solução.

Hoje ainda acho que seria útil. Difícil é conseguir convencer o outro. E quem não concordar tá errado.

BRUNA LOMBARDI

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