21 DE NOVEMBRO DE 2020
CARTA DA EDITORA
Um dia de mobilização
Desde quinta-feira à noite, quando chegaram as primeiras informações de que um homem negro, que fazia compras no Carrefour da zona norte da Capital, havia sido morto por vigilantes do supermercado, sabíamos que não estávamos diante de mais um caso policial dos que estamos acostumados a presenciar. Não se tratava de homicídio provocado por guerra de facções, de um latrocínio ou de um desentendimento entre clientes que levou um deles à morte. O caso - ocorrido na véspera do Dia da Consciência Negra - precisava ser visto por um outro ângulo. Não havia como desvinculá-lo de um problema secular do país: o racismo estrutural.
Às autoridades policiais compete a decisão sobre em qual ou quais tipos de crime os dois agressores serão enquadrados e pelos quais responderão perante a Justiça. A nós, jornalistas, compete acompanhar o desenrolar do caso e abrir o debate. Jamais saberemos se João Alberto Freitas foi espancado por ser negro (a não ser que os próprios agressores admitam), mas as estatísticas no país nos mostram que negros são a maioria das vítimas de episódios como o de quinta-feira.
Canalizamos todos os esforços da Redação Integrada de ZH, GZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho para ouvir os familiares de Beto Freitas e testemunhas oculares da cena, acompanhar as investigações da polícia, ouvir especialistas e autoridades e, principalmente, dar vozes a cidadãos negros.
Nesta edição, além da cobertura completa do que fizemos ao longo da sexta-feira, os colunistas Tulio Milman, Paulo Germano, Rosane de Oliveira, Marta Sfredo, Giane Guerra, Pedro Ernesto Denardin, Diogo Olivier, Leonardo Oliveira e Maurício Saraiva abriram espaços em suas colunas para que personalidades negras de diferentes áreas de atuação (esportivas, culturais, políticas, econômicas) contribuíssem com reflexões sobre a morte de Beto.
É também obrigação do jornalismo retirar das sombras chagas que insistem em sobreviver em pleno século 21.
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