sábado, 21 de novembro de 2020


21 DE NOVEMBRO DE 2020
FLÁVIO TAVARES

Buva & bufões 

A pandemia do novo coronavírus se alastra tão ameaçadoramente, que faz esquecer outros perigos. Os bufões da política optaram, há muito, pela politicagem e, hoje, somos comandados pelas fanfarronices do dia a dia de governantes só interessados em promoção pessoal.

Os bufões que nos governam (e, até, os que se candidatam a governar) a cada dia mais se parecem à buva, aquela erva daninha que devasta lavouras. Aqui, infesta o tripé soja, trigo e milho (nossa base agrícola) e só é combatida pelo pesticida 2,4-D, chamado de "deriva" por ter derivações que chegam a cultivos vizinhos.

É tão eficaz para "limpar terreno", que, na guerra do Vietnã, os Estados Unidos o usaram como um dos "agentes laranja" para desfolhar florestas e ter alvo livre para bombardear.

Agora, o "deriva" está destruindo nossos parreirais e oliveiras na Campanha, além dos cultivos de tabaco, alfafa, ameixa, pêssego, noz-pecã e até a cotidiana salsa. Já atingiu mais de três dezenas de grandes cultivos e chegará a centenas mais. A aviação agrícola lança o pesticida para proteger soja, milho ou trigo e o vento espalha a maldade pelo ar ao longo de quilômetros sobre campo e cidades.

A perigosa dioxina foi banida há 25 anos, mas segue presente no "deriva" e afeta os humanos e seres vivos até em doses ínfimas. Eficaz contra macegas, o pesticida é como o remédio que, para curar, mata o doente?

Isto faz entender a semelhança entre bufão e buva - ambos fanfarrões, alardeiam e ferem até com o que não são. O desastroso é estarmos à mercê de um ou outro e dependermos deles no dia a dia.

Mas há, também, o contrário disto. Há os descobridores do futuro, como Oskar Coester, que nos deixou dias atrás, aos 82 anos. Ideou e desenvolveu o aeromóvel, único meio moderno de transporte que nada polui, mas que a cegueira dos bufões não viu, talvez por Coester ter nascido aqui, à volta da esquina, e não se exibir. Foi implementado apenas em 800 metros junto ao aeroporto, mais como "consolo" do que por necessidade.

Poderia facilmente ir até o hospital da PUC e à PUC pela Avenida Ipiranga, que já tem, até, espaços para as pistas elevadas. A cegueira dos bufões, porém, não viu, nem agora algum candidato a prefeito percebeu como saída para desafogar o trânsito brutalizante da Capital nas horas de pico.

Por que os bufões imitam a daninha buva?

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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