terça-feira, 17 de novembro de 2020


17 DE NOVEMBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

JUSTIÇA AO TRE-RS

Acostumados à grande agilidade da divulgação dos resultados, os eleitores brasileiros foram surpreendidos no domingo com uma inusual lentidão devido a um problema técnico centralizado em Brasília que, apesar de ter chamado atenção, em nada comprometeu a vontade popular expressa nos votos. Vitais no processo, a transmissão de dados pelos tribunais regionais eleitorais (TREs) e a recepção das informações pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) transcorreram normalmente e de forma segura. O problema, explicou o TSE, foi a centralização da divulgação em Brasília, enquanto em eleições anteriores esta era uma tarefa das Justiças Eleitorais de cada Estado.

Com o epicentro dos contratempos na capital federal, a Justiça Eleitoral gaúcha atravessou o primeiro turno das eleições municipais de 2020 com um desempenho digno de elogio. Após uma longa preparação para os desafios extras acarretados pela pandemia, o domingo de votação chegou ao fim sem maiores transtornos. Problemas pontuais de urnas eletrônicas foram resolvidos a tempo, todas as informações essenciais para o eleitor foram divulgadas de forma exaustiva e os votantes, em regra, seguiram as orientações básicas, como o uso de máscaras nas seções e o respeito ao distanciamento. Ao longo do dia, a cada interrogação que surgia, os servidores do TRE-RS e o seu presidente, desembargador André Luiz Planella Villarinho, foram solícitos em prestar informações e esclarecimentos. Ao fim, não há nenhum questionamento sério sobre a lisura do pleito.

O fato é que, 24 anos após a implementação das urnas eletrônicas no país, os brasileiros se habituaram a conhecer celeremente os resultados das eleições, poucas horas após o fim da votação. É natural, portanto, que uma demora acima do esperado cause surpresa. É o preço do êxito ao longo de sucessivos anos. A origem da falha, explicou ontem o TSE, foi relacionada a testes insuficientes com um supercomputador entregue com atraso pelo fornecedor. O episódio, também asseguram as autoridades eleitorais, não guarda nenhuma relação com tentativas de ataque hacker, ações investigadas agora como uma possível investida com o objetivo de desacreditar o sistema eleitoral brasileiro.

Espera-se que as falhas que levaram à lentidão sejam resolvidas para o segundo turno, o que também é facilitado pelo número menor de eleitores. E que se faça uma avaliação transparente para verificar a conveniên- cia de retomar a descentralização, mesmo que para isso seja preciso reforçar as defesas contra eventuais ataques cibernéticos. O e-Título, outra novidade promissora mas que gerou frustração ao ficar fora do ar pelo excesso de acessos, também certamente merecerá a devida atenção para que os erros sejam sanados.

Lastima-se que políticos e influenciadores digitais ligados ao bolsonarismo tenham se aproveitado para disseminar, sem qualquer evidência, insinua- ções de fraude. Só não se pode dizer que é surpresa. Afinal, é o que ensina o manual do trumpismo: é mais fácil e conveniente justificar maus desempenhos e derrotas espalhando teorias da conspiração do que assumindo os próprios pecados. Mas a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro segue intacta e as urnas eletrônicas permanecem sem um único episódio comprovado de violação.

 

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