segunda-feira, 22 de agosto de 2016



22 de agosto de 2016 | N° 18614
EDITORIAL

OURO EM AUTOESTIMA

Os brasileiros conquistaram nestes Jogos um valor mais precioso do que as medalhas dos vencedores: a confiança de que somos capazes de reconstruir um país digno para todos.

Se os sentimentos dos brasileiros em relação aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro fossem expressos na simbologia do pódio, poderíamos nos autoconceder a medalha de bronze em questões que não chegaram a comprometer o evento, prata em organização e um ouro inquestionável em autoestima. 

O Brasil sai dessa experiência olímpica bem melhor do que entrou e muito acima das expectativas internacionais, que oscilaram do desastre preanunciado para o sucesso inequívoco na medida em que a competição avançou. Ao final, ficou a sensação de dever cumprido e o orgulho de constatar que somos, sim, capazes de fazer bem as coisas e que podemos até mesmo transferir o êxito da experiência olímpica para áreas essenciais ao desenvolvimento do país.

O público brasileiro se comportou muito bem, superando com alegria, hospitalidade e espírito festivo indelicadezas isoladas, como a manifestação infeliz do prefeito da cidade sobre as reclamações dos australianos ou mesmo as vaias inoportunas para o atleta francês que competia com o brasileiro no salto com vara. Para compensar, a torcida inteira do Maracanã aplaudiu o time alemão na entrega das medalhas do futebol – exemplo claro de reconhecimento, aprendizado e adaptação ao espírito olímpico.

Em relação ao planejamento e à organização da Olimpíada, beliscamos o ouro. Mesmo que algumas acomodações da Vila Olímpica tenham sido entregues sem estarem completamente concluídas (daí a reclamação dos australianos) e que tenha havido filas e falta de alimentos na largada, todos os problemas foram superados rapidamente. Tudo funcionou: segurança, transporte, áreas de lazer, acomodações para os atletas, estádios confortáveis e informações aos visitantes. O Rio construiu um Parque Olímpico tão bom quanto os demais, ampliou a linha do metrô, implantou o VLT e os BRTs, urbanizou a área do Engenhão, revitalizou o porto e deixa uma infraestrutura qualificada para uso dos cariocas.

Encerrado o evento, sem grandes incidentes e com o reconhecimento da mídia internacional, fica como maior legado a recuperação da autoestima do povo brasileiro, abalada por conta da crise política e econômica, da corrupção e do desemprego. Evidentemente, o sucesso dos Jogos Olímpicos não resolve tais problemas. Mas comprova que os brasileiros podem aproveitar o conhecimento adquirido para planejar e executar um novo país. Podem aproveitar o exemplo do esporte, que transforma pessoas humildes em grandes campeões, como evidenciaram muitos dos nossos medalhistas, para enfrentar mazelas crônicas como a violência, o tráfico de drogas, as deficiências de educação, saúde e segurança.

Com esforço, criatividade, trabalho coletivo e tenacidade, os brasileiros conquistaram nestes Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro um valor mais precioso do que as medalhas dos vencedores: a confiança de que somos capazes de reconstruir um país digno para todos.

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