quinta-feira, 4 de agosto de 2016


04 de agosto de 2016 | N° 18599 
DAVID COIMBRA

Rio de Janeiro. Olimpíada 2016. Dia 1


A Mídia diz que é preciso chegar ao aeroporto duas horas antes de qualquer voo, mesmo que seja nacional, por causa das novas normas de segurança.

Segui o conselho da Mídia. Pulei da cama quando os passarinhos, as pessoas, os cachorros e os elefantes ainda dormiam, e toquei para o Salgado Filho.

Não era preciso. Meu embarque para o Rio foi tranquilo, e fiquei duas horas esperando. A Dilma tem razão. Não dá para confiar na Mídia.

Sorte que tinha boa companhia. Fiquei conversando com o Paulão, um dos luzidios integrantes da equipe da RBS nesta Olimpíada.

Paulão, você sabe, conquistou a medalha de ouro de vôlei com a grande seleção de 1992, em Barcelona. Ele ficou me contando histórias daquele título.

Paulão mede dois metros e um. A gente tem que conversar com ele com o queixo apontado para o céu. Perigo de torcicolo. Mas ele disse que os adversários do Brasil na final, os holandeses, eram mais altos ainda.

– Um dia, entrei no elevador com eles e me apavorei. Os caras eram enormes. Para não parecer intimidado, virei de costas e assim fiquei, até abrir a porta.

Outra: quando ele ia para Barcelona, no embarque de Porto Alegre para São Paulo, uma surpresa nada boa: o voo estava lotado. Overbooking. Paulão se desesperou. Se perdesse o voo, chegaria atrasado e a seleção viajaria sem ele.

– Eu preciso estar neste voo – ele gemia. – Preciso!

Então, um passageiro ergueu o braço:

– Eu troco de voo com ele. Pego o próximo.

Paulão foi. E voltou com a medalha de ouro.

Relembrando a história, lamentou não ter anotado o nome do bom samaritano que o ajudou naquele dia. Bem. Se você conhece o homem, ou se for o dito cujo, mande um e-mail para mim, que o coloco em contato com o Paulão. Depois de 24 anos, ele quer agradecer.

Assim como no Salgado Filho, tudo funcionou bem no Galeão. Os voluntários foram bastante prestativos e simpáticos. Mostrei no celular o voucher do hotel para onde queria ir e um deles exclamou em chiado carioquês:

– Maish eshte hotel é em Cabo Friiiu!

Cabo Frio? Olhei o voucher e, com mil biscoitos Globo!, era mesmo em Cabo Frio!

Deve ter havia algum engano, pensei. E houve mesmo, do rapaz da agência de turismo, que escreveu o endereço errado. Meu hotel é no Rio. Resolvido o pequeno impasse, tomei um shuttle, e o motorista rodou pela via exclusiva da chamada “família olímpica” na velocidade habitual dos motoristas de ônibus do Rio: 300 quilômetros por hora.

Como estava sentado bem na frente, a viagem foi com mais emoção. O motorista fazia as curvas reclamando: 

– Olha só esses carash vendendo coisash no meio da rua! Vou acabar passando por cima de um! Isso é o Rio, meu amigo! Isso é o Rio!

Nas pistas ao lado, apenas carros parados num engarrafamento de quilômetros de extensão.

– Isso aqui fica trancado o dia todo, meu amigo! – dizia motorista. – Isso é o Rio! Isso é o Rio!

Mas chegamos a salvo e estamos bem. Aquilo era o Rio e também o mar, o morro, as pernas de louça da moça que passa, o chope dourado, a alegria. Amanhã começa a função. E aposto que vai ser lindo.

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