segunda-feira, 1 de agosto de 2016


01 de agosto de 2016 | N° 18596 
DAVID COIMBRA

Uma família de leões



Vi um filme sobre uma família de leões no canal da National Geographic. A National Geographic é das grandes obras da humanidade em todos os tempos, devia ser tombada pela ONU, ganhar o Prêmio Nobel, receber o título de sir da rainha.

Essa família de leões era peculiar, porque os leões, em geral, reinam pelas savanas da África em grandes bandos, alguns machos e muitas fêmeas. Esses, não. Esses eram apenas o leão, a leoa e três filhotinhos, mais parecidos com uma família humana, desde que não seja a do Mr. Catra.

Viviam tranquilas, as nossas feras amigas, os pais tão somente preocupados com a criação dos seus leõezinhos, até que, uma noite, ouviram um inquietante som vindo do Norte: rugidos de outros leões. Era uma alcateia que descia para o Sul, fugindo dos perigosos humanos que haviam se instalado em seu território.

Os rugidos se repetiram por várias noites, até que os forasteiros chegaram. Eram quatro leões e pelo menos 20 leoas. O pai da pequena família eriçou sua enorme juba negra e rosnou, pronto para defendê-la. Lutou com bravura, e a leoa serviu-lhe de escudeira, mas eram muitos os inimigos, não havia como vencer. Na confusão do combate, cada um foi para um lado, ambos bastante machucados. A leoa levou dias para se recuperar. Quando se sentiu melhor, achou os filhos e foi procurar o pai. Encontrou-o agonizante. Em pouco tempo, ele morreu.

Agora, a leoa teria de lidar sozinha com os invasores. Para fugir deles, viu-se obrigada a tomar uma decisão difícil: atravessar a nado um rio infestado de crocodilos, a fim de alcançar uma pequena ilha. Leões temem a água, mas ela foi. Tinha de ir. Precisava salvar seus pequenos. Na travessia, porém, um dos filhotes hesitou e foi arrastado para o fundo negro do rio por um crocodilo. A leoa ganiu de dor.

Restaram um leãozinho macho e uma fêmea. A essa altura, eu já estava angustiado. Será que a leoa conseguiria criar seus filhotes em segurança, enfim? Era só o que ela queria, puxa. Onde estava a justiça da natureza?

O filme mostrou, então, lindas cenas da leoa com os filhotes, eles brincando, mamando, ela acariciando-os amavelmente com as grandes patas. O leãozinho era menor do que a irmã, mas parecia mais amoroso e arteiro. Via-se que era um bichinho feliz. A leoazinha dava a impressão de ser mais responsável e mais faminta: estava sempre reivindicando as tetas da mãe.

Era esse o problema: leite. A mãe havia de ter leite, a fim de alimentá-los. Portanto, havia de sair à caça.

Eis que chegou à ilha uma manada de búfalos. Era uma boa e uma má notícia: os búfalos podiam fornecer alimento, mas também eram terrivelmente agressivos, com seus chifres curvos e pontiagudos. As cenas seguintes foram da aflita mãe leoa tentando caçar búfalos e se defendendo do contra-ataque deles. Ela tentou uma, duas, três vezes, e não conseguiu.

Oh, meu Deus, será que os filhotes vão morrer de fome?, apoquentava-me, do fundo do sofá.

Para complicar a situação, os ruídos das caçadas atraíram a atenção das leoas do outro lado da margem. Uma delas, a líder do bando, havia perdido um olho na luta com a família. E aí, como que esfaimada de vingança, ela convocou as outras para enfrentar os crocodilos e cruzar o rio.

A família estava de novo em perigo. Quando as leoas malvadas chegaram à ilha, a leoa-mãe estava se esgueirando para surpreender um búfalo. A leoa caolha percebeu que os dois filhotinhos ficaram desprotegidos e começou a caminhar em direção a eles, decidida a devorá-los.

“Não!”, gritei, em frente à TV. “Nããããão!”.

Mas a leoa caolha estava cada vez mais perto, cada vez mais perto...

Não era possível que ela iria comer os filhotinhos, não era possível que o mundo fosse tão cruel!

O que aconteceu? Saiba amanhã.

Nenhum comentário: