06 de agosto de 2016 | N° 18601
L.F. VERISSIMO
Novos musicais
Já fizeram musicais sobre a Evita Perón, Os miseráveis, de Victor Hugo, os poemas de T.S. Eliot sobre gatos e o naufrágio do Titanic, e uma ópera sobre o encontro do Richard Nixon com o Mao Tsé-tung. Não demora e aparecerá em alguma marquise Das kapital – O musical. Por que não? Na verdade, não há nada – salvo, talvez, O livro dos mortos – que não possa ser musicado, coreografado e posto num palco.
Já posso imaginar até a abertura de Das kapital, com o coro cantando “Cogito, ergo – som!”, e entra a orquestra. Uma canção que a namorada abandonada do Ser canta para seu retrato: “O ser em si, o ser para si – e você”. O plangente Fenomenologia blues, cantado pelo Ser quando tudo parece perdido e o Nada vencerá. Interlúdios cômicos, com três sapateadores cantando Hegel, Husserl, Heidegger:
“Somos Hegel, Husserl e Heidegger
Rapazes que ruminam a razão.
Como róbi refletimos
E raramente rimos
Ajuda se você for alemão”.
Alguns musicais dariam mais trabalho. O Novo Dicionário da Língua Portuguesa teria um título pronto (Aurelião!) e algumas frases para a publicidade do espetáculo: “Ação, beleza, conflitos... e xifódimo e zurzidela também. Tudo está em Aurelião!”.
Da Bíblia, já usaram a vida de Cristo para um bom musical, por que não fazer algo com a história de Noé e sua arca? Noé recebendo os pares de bichos no topo da rampa e orientando sua distribuição dentro da arca, cantando uma adaptação de São dois pra lá, dois pra cá, de João Bosco e Aldir Blanc. Haveria um fantástico número de dança com toda a companhia no convés com o efeito devastador da valsa dos elefantes.
Uma ópera-rock sobre Adão e Eva. Adão para Eva, num momento de irritação:
“Me chateias
Me agrides
Me enches
Me esgoelas...
Cuidado, mulher,
Eu tenho outras costelas”.
Jane para Tarzan, num musical sobre a dupla:
“Fico louca com seus músculos
Sobre cada tendão escreveria opúsculos
Sua cabeleira revolta
E sua tanga semissolta
E esse seu jeito, Tarzan,
De virar a cabeça e dizer “Ahn?”
Acima de tudo amo seu grito
Esse selvagem bramido
Mas, por favor, não no meu ouvido”.
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