23 de agosto de 2016 | N° 18615
LUÍS AUGUSTO FISCHER
PIAUÍ
Nelson Rodrigues, o cronista, uma vez passou semanas em volta do Piauí. Era uma pegação de pé, que começou de modo eventual – ele um dia constatou que aquele Estado brasileiro não tinha produzido intelectuais salvo o então ministro Reis Velloso. Logo apareceram respostas de instituições piauienses para rebater a desinformação do Nelson, que então ainda lembrou que, feito um exame de consciência rigoroso, não pensava no Piauí desde O meu boi morreu, um canção popular da infância dele.
E o senhor, caro leitor, há quanto tempo não pensa no Piauí?
Olhe o caso da revista Piauí, a sensacional revista mensal de reportagens, que dão gosto de ler (salvo algum pedantismo intelectual que acomete uns 10% dos textos). Ela tem esse nome não para pegar no pé daquele Estado brasileiro, o de menor faixa litorânea num país que ainda vive pensando que é praia, apenas praia. O nome é uma referência à mais antiga civilização humana presente no território brasileiro – que ocorreu justamente no Piauí, nas profundezas do sertão.
Há quanto tempo? Pois há uma forte chance de aquilo lá ter registro humano há uns 50 mil anos. Sim, 50 mil. Muito além dos 14 mil que a arqueologia norte-americana hegemônica admite. A pessoa que mais contribuiu para essa datação se chama Niede Guidon, tem agora 83 anos e acaba de jogar a toalha.
Depois de batalhar, empenhar sua vida e mesmo seu dinheiro pessoal para manter aberto em condições mínimas o Parque Nacional da Serra da Capivara, ela precisou anunciar ao mundo que desiste, porque não há como.
Dizem que o Parque é a “área de maior concentração de sítios pré-históricos do continente americano e Patrimônio Cultural da Humanidade – Unesco, e “contém a maior quantidade de pinturas rupestres do mundo”. Eu não sei dizer se sim ou não, mas sei que é simplesmente inaceitável que nosso país deixe isso acontecer.
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