11 de agosto de 2016 | N° 18605
LUCIANO ALABARSE
ESPERANDO AVIÕES
Anthony Hegarty, o excepcional cantor do Anthony and the Johnsons, virou mulher. Já com o nome feminino, Anohni, gravou Hopelessness, um disco cheio de suas tristezas habituais, regadas agora por efeitos eletrônicos de última geração.
No repertório, uma das canções políticas mais contundentes e bonitas dos últimos anos, Obama, mantra hipnótico que, sem dubiedades, faz um inventário contundente do legado do presidente americano. O que verdadeiramente importa, a voz de cristal puríssimo, dele ou dela, seja sob o nome que for, está intacta.
Depois de ler Tirza, Uma temporada no escuro, o quarto volume da saga Minha luta, do norueguês Karl Ove Knausgard, me pareceu um livro destinado à adolescentes púberes. Não é, claro. É menos impactante do que os anteriores, mas mesmo assim saboroso e bem escrito. Restam dois a serem ainda lançados no Brasil. Torço para que o autor recupere a capacidade de surpreender o leitor.
A abertura dos Jogos Olímpicos foi surpreendentemente bonita. Vi a cerimônia inteira, chorei, fui dormir e acordei orgulhoso. Li tudo o que os jornais publicaram sobre o espetáculo. Só depois prestei atenção às outras notícias do dia. Demorei a acreditar na manchete da página 37 da Zero Hora: “Morre o cantor e compositor mineiro Vander Lee, aos 50 anos”. Por um segundo tudo em mim ficou suspenso e inalcançável. Mais uma vez vida e morte me chegam absurdas e avassaladoras, uma “pista vazia esperando aviões”.
Ouvi Vander Lee a vida inteira. Nunca o vi ao vivo. Dos seus nove discos, tenho oito. Gal, Bethânia e Vanusa o gravaram lindamente. Mas gostava mesmo era de ouvi-lo ao violão, ele mesmo interpretando suas canções. Sua voz aveludada sempre me comoveu. Depois de semanas sem coragem de mexer no aparelho de som, finalmente tirei o disco do João Fênix de lá e passei o sábado inteiro ouvindo o Vander e perguntando por que um homem talentoso morre aos 50 anos?
Não encontrei resposta – talvez porque não haja resposta alguma.
Vivamos. Sigamos.
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