26 de agosto de 2016 | N° 18618
DAVID COIMBRA
O fim do governo Sartori
25 de agosto de 2016. Você, gaúcho, lembre-se dessa data. Nesse dia, às seis horas da tarde, uma mãe foi assassinada com um tiro na cabeça, em frente à filha, na porta de uma escola em Porto Alegre.
Nesse mesmo dia, nessa mesma hora, o governo de José Ivo Sartori acabou. Ou, pelo menos, o tipo de governo que ele vinha exercendo até então.
Trato daquela gestão de Sartori no passado, porque a morte dessa mãe é um marco. Somada a outras tantas, de igual natureza, representa a ultrapassagem de um limite. Não há mais como suportar. Agora chega.
A segurança pública é a principal tarefa do Estado. Não das unidades da federação; do Estado conceitual, de qualquer Estado, em qualquer parte do mundo. O Estado foi criado em primeiro lugar para isto: para dar segurança e justiça ao cidadão. O Estado pode sonegar até educação; segurança, não. Se o Estado não fornece segurança, não tem mais razão de ser.
Todos sabem da penúria das finanças do Rio Grande do Sul e está bem posto que a culpa não é de Sartori. Mas Sartori tem responsabilidade, sim, pela forma como está enfrentando o problema. Principalmente no que é o principal: a segurança pública. Ele diz que não tem como colocar um policial em cada esquina. É verdade. Mas segurança pública não se faz apenas com a presença física da polícia; faz-se com a ideia de que a polícia estará presente e atuante sempre que houver necessidade.
O crime não é reprimido só pela punição, mas pelo sentimento de que haverá punição se o crime for cometido.
O discurso do governador e sua postura derrotista, de fracasso anunciado, são responsáveis diretos pela situação da segurança pública no Rio Grande do Sul.
Um jovem com uma arma na mão, em Porto Alegre, pode fazer o que quiser. Ele se sente dono da cidade, porque ele comete um pequeno crime e não tem consequência. Aí ele ousa um pouco mais, e nada lhe acontece. Então, ele se enche de confiança, ele toma o que bem entender, a qualquer hora, de quem quer que seja, ele é o senhor dos destinos das outras pessoas, ele decide se uma mãe de 44 anos deve ou não viver. Ele é maior do que o Estado, porque o Estado não apenas é omisso: o Estado avisou que será omisso.
Sartori é um homem bom e discreto. Gosta de trabalhar em silêncio. O que se exige dele agora é o contrário. Exigem-se alarde, urgência e atitude. Sartori pode fazer isso. Ele foi eleito, tem legitimidade para convocar as forças da sociedade para a ação imediata.
Sartori tem de fazer alguma coisa já. Hoje. Dia 26 de agosto de 2016. É hora de ele começar um novo governo. Ou ele não terá mais como governar.
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