quinta-feira, 25 de agosto de 2016


25 de agosto de 2016 | N° 18617 
L.F. VERISSIMO

Toots, Sérgio e Luan


Diziam (com algum exagero) que só duas coisas produzidas pela Bélgica valiam a pena: a cerveja e o Toots Thielemans. Toots tocava harmônica, a popular gaitinha de boca, como ninguém, e morreu nesta semana, com 94 anos, em Bruxelas. Ele começou tocando guitarra no início dos anos 40 e depois passou para harmônica. O violão e a guitarra são instrumentos, digamos, íntimos, que você toca com eles perto do coração. Toots quis uma intimidade ainda maior e preferiu a gaita, o único instrumento de sopro em que a espiração é tão sonora quanto a expiração – salvo o assovio, o primeiro instrumento h-umano, que Toots também dominava. 

Ele foi um dos melhores improvisadores do jazz, tocou com todos os grandes e gostava muito da música brasileira. Uma das melhores faixas do seu CD The Brazil Project é uma interpretação da sua composição Bluesette que reúne uma espécie de linha de frente de instrumentistas e cantores brasileiros, como João Bosco, Caetano Veloso e outros. E, uma raridade, Chico Buarque cantando em inglês. Mesmo que não tivesse feito mais nada – e fez de tudo –, Toots Thielemans mereceria todas as honras e homenagens póstumas que lhe serão feitas só por ter composto Bluesette. É o que será tocado no seu enterro, não duvido. Numa versão andante majestosa.

Por falar em coisas boas (e no Chico), está sendo lançada pela Companhia das Letras uma edição crítica de Raízes do Brasil, com todo o texto histórico de Sérgio Buarque de Holanda e mais ensaios sobre a obra, de gente como Antonio Candido. Muitas das teses revolucionárias, para a época do seu lançamento (1936), de Raízes do Brasil foram questionadas e pelo menos uma, a do brasileiro como um ser cordato, não resiste a um inventário das nossas violências nestes 80 anos, mas o livro permanece extraordinariamente atual. Extraordinário, também, é o esmero da Companhia das Letras, que nos presenteia com edição com capa dura, belíssima.

Uma injustiça flagrante na convocação para a Seleção Brasileira do Tite foi a ausência do Luan, um dos melhores da seleção olímpica. Tite nem pode dizer que não o viu jogar: estava presente em todos os jogos da olímpica. Só não viu o que todo o mundo viu, até colorados.

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