15 de agosto de 2016 | N° 18608
PAULO GERMANO
O amor de hoje
No dia seguinte ao fim do namoro, Júlio selecionou 15 mulheres no Facebook. As 15 mais atraentes da lista de amigos. Enumerou todas num caderninho, Aline, Bruna, Fabiana, Flávia, e chorou algumas vezes porque, no meio da pesquisa, não resistia em espiar o perfil da ex.
– Nenhuma chega aos teus pés... – ele fungava.
Examinou a lista e fez algumas trocas: era importante que não fossem amigas entre si. Deixou só uma do trabalho e uma da academia, incluiu três que havia conhecido em festas, três que nunca vira pessoalmente, algumas amigas de amigos, a secretária do dentista, uma prima distante, até uma antiga professora e, fechada a seleção, partiu para a próxima fase. O texto.
Mandaria o mesmo para todas, portanto deveria servir para as 15. Não era tão difícil: bastava soar sensível porém decidido. Júlio estava machucado pelo fim do namoro, mas, com mais de 30 anos e uma experiência razoável, julgava saber o que as mulheres queriam. Em cinco minutos, já havia digitado no Word:
“Oi, Fulana. Tudo bem? :) Sei que não é a forma mais apropriada de fazer um convite, que talvez o ideal fosse falar pessoalmente, mas nem sempre é tão fácil. Desculpa ser tão direto (e sincero): te acho uma mulher incrível, especial de verdade. Eu ficaria muito feliz se a gente pudesse se conhecer melhor. Topa jantar comigo nesta semana? Um beijo”.
Sensível mas decidido. Júlio foi abrindo as janelinhas, por ordem alfabética, Aline, Bruna, Fabiana, Flávia, Joana, Laura Lima, Laura Maia, Marília, Marina, deu Ctrl C no Word e começou a colar o parágrafo nas janelas, apenas trocando “Fulana” pelo nome das moças. Quando enviou o texto para Viviane, a última das 15, teve um ataque de choro e lembrou do que sua mãe dissera mais cedo:
– Respeita o teu luto, meu filho. É o fim de um namoro, respeita o teu luto.
Mas que tempo havia para luto? Com tanta gente disponível, com um dedo no enter lhe abrindo qualquer caminho, não seria uma idiotice sucumbir à dor e à reclusão de um eremita? Tudo bem, é verdade que, se parasse para pensar um pouquinho, talvez sua mãe estivesse... Paula respondeu! Paula respondeu! Paula era uma loira da academia, tinha pernas compridas, postura elegante e um sorriso, cara, que sorriso ela tinha! Paula, Paula, Paula!
“Nossa, Júlio, muito obrigada”. Que grande início de mensagem, que golaço ele marcaria! “Só que, nesta semana, só posso hoje”. É hoje, é hoje, é hoje!!!
Às quatro e meia da manhã, com Paula já dormindo ao seu lado, Júlio conferia no celular outras oito respostas. Havia apreciado a noite com Paula, não podia negar.
– Adorei. Obrigada por tudo – ela disse quando acordou.
– Desculpa ser tão direto, mas preciso dizer: eu te amo.
Júlio realmente a amava. Naquele dia, ele a amava. Como no dia seguinte tentaria amar Pâmela.
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