segunda-feira, 8 de agosto de 2016


08 de agosto de 2016 | N° 18602 
PAULO GERMANO

Hora de falar bem do Brasil


Agora que a abertura da Olimpíada foi um sucesso e o brasileiro enfim sentiu orgulho, percebeu que Santos Dumont é demais, Gisele é demais, Caetano é demais, nossa cultura é demais, até o funk carioca e o Vanderlei Cordeiro e os atletas plantando sementes são demais, agora que o brasileiro se envaideceu com os elogios da imprensa internacional, talvez agora seja a hora de sermos justos. Não ufanistas, apenas justos.

Não há dúvida de que temos problemas tenebrosos, de que atravessamos uma crise devastadora, mas ainda é absolutamente justo sentir orgulho disso aqui. Até porque, se for para comparar, nossos problemas não incluem um Donald Trump com chance de virar presidente. Nem uma periferia que produz terroristas às pencas, nem autoridades que tratam imigrantes como lixo, nem um Brexit irresponsável – só para ficar em alguns exemplos do Primeiro Mundo.

Então, por favor, que grande moral tem essa turma para ridicularizar o Brasil? Longe de mim dourar a pílula – boa parte dos textos que escrevo discutem mazelas graves que precisamos enfrentar, mas uma coisa é exigir soluções, outra é abrir mão de qualquer resquício de amor-próprio. Portanto, vamos lá, sejamos justos.

Como bem lembrou o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, o Brasil só começou de fato em 1808, com a chegada da família real. Antes, era proibido abrir estradas, os portos eram fechados, não havia manufaturas, não havia escolas, não havia moeda. Noventa e oito por cento da população era analfabeta e um terço era de escravos. Para completar, herdávamos a tradição lusitana do último país europeu a acabar com a Inquisição, o tráfico negreiro e o absolutismo.

Apesar de tudo isso, em 200 anos viramos uma das 10 maiores economias do mundo. Sabe lá o que é isso? Estamos entre as principais democracias do planeta e retiramos dezenas de milhões de pessoas da miséria. Não há como negar que o Brasil foi um dos grandes sucessos do século 20, talvez o maior de todos. E, em uma única geração, nos últimos 30 anos, demolimos o nosso flerte histórico com as ditaduras, a inflação foi aplacada, a estabilidade monetária virou realidade e houve uma incontestável inclusão social.

Mas essa corrupção é uma vergonha!

Evidente que é uma vergonha, e a nossa mais recente conquista é justamente esta: a certeza de que a impunidade acabou. A sociedade deixou de aceitar bovinamente o inaceitável, as instituições ofereceram respostas à altura, alguns dos maiores empresários do país e alguns dos mais influentes políticos da República foram presos. Presos! Cadeia, cana para eles! Com o combate à corrupção, em breve não haverá mais espaço para corjas inteiras de bandidos atuarem no poder.

A educação está horrível? Em relação à qualidade, não poderia estar pior, mas pelo menos já temos uma escola pública em cada grotão do país, e o Ensino Superior recebe cada vez mais gente antes impossibilitada de sonhar com ele. A segurança em colapso, os presídios desumanos, a ineficiência de um Estado grande demais, a insuportável carga tributária, o sistema político que facilita os piores conluios, tudo isso precisa de respostas, e nunca estivemos tão aptos para exigi-las.

Aos poucos, desde que continuemos exigindo, vamos alcançar o que nos falta. E tudo o que alcançamos até hoje deve-se àquilo que apareceu na TV e emocionou o mundo todo: deve-se aos brasileiros. Às vezes, é saudável aplaudi-los.

Sem ufanismo, mas com justiça.

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