sexta-feira, 5 de agosto de 2016


05 de agosto de 2016 | N° 18600 
NÍLSON SOUZA

VOO OLÍMPICO


O Brasil vai voar no 14-Bis pelo Rio de Janeiro nesta sexta-feira, na fantasia imaginada pelos criativos diretores da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. Pelo menos é o que dizem as notícias sobre a festa, embora algumas bizarrices antecipadas como spoiler já tenham sido desmentidas pelos organizadores – notadamente o polêmico assalto à Garota do Ipanema, interpretada por Gisele Bündchen. Teremos também, segundo os espiões do ensaio, as caravelas de Cabral navegando pelo gramado do Maracanã, música de vários gêneros e, óbvio ululante e brasileiro, escolas de samba.

O que mais me aguça a curiosidade neste espetáculo esportivo-carnavalesco é o voo do avião de Santos-Dumont. Acabei de ler O homem com asas, do holandês Arthur Japin, que conta de forma romanceada a vida e a morte daquele que talvez tenha sido o maior herói de nosso país em todos os tempos. É uma disputa difícil entre Santos-Dumont e Tiradentes, com certo prejuízo para o primeiro por ter colocado a corda voluntariamente no próprio pescoço enquanto o outro pereceu como mártir. Mas, em votação popular promovida há alguns anos por um canal de televisão, o médium Chico Xavier deixou os conterrâneos mineiros para trás.

O livro relata as aventuras do brasileiro que conquistou os céus de Paris e a admiração dos seus contemporâneos, pela sua persistência e coragem para dominar os ventos e os contratempos. O inventor tropeçou incontáveis vezes, desabando das alturas com seus balões e projetos de aviões, até alcançar o sucesso em voos controlados em torno da Torre Eiffel. Mas o homem que fazia tricô e lançou a moda do chapéu panamá amassado acabou tendo um final trágico, consumido pelo remorso de ter inventado um instrumento de morte, como concluiu depois de ver o avião utilizado em guerras e revoluções.

Agora, a tecnologia e os truques cinematográficos planejados pelos diretores da festa nos prometem uma viagem no 14-Bis pelos cartões-postais da Cidade Maravilhosa. Já comprei a minha passagem para o sofá da sala. Não dá para perder esse voo.

Depois, a gente desce e começa a torcer pelos nossos atletas – ou, pelo menos, para que o desfile da Garota do Ipanema não nos traga maiores constrangimentos.

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