19 de agosto de 2016 | N° 18612
PAULO GERMANO
A fobia do lixo 2
Solidário à minha dor, o DMLU me procurou. A intenção era me oferecer algum conforto depois da coluna de quarta-feira, “A fobia do lixo”, em que relatei meu sentimento de culpa por nunca saber onde enfiar o diabo do lixo – situação que só piorou com as novas lixeiras aqui da Zero: tem de vidro, plástico, orgânico, papel e metal.
Confesso que o início do e-mail me deixou nervoso. “Não se usa mais a palavra lixo, mas sim resíduos”, repreendeu-me o DMLU. “Lixo foi abolido do Plano Nacional de Resíduos Sólidos e também das regras municipais do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e da Lei Complementar 728/14 (Código Municipal de Limpeza Urbana)”.
Faz sentido. Agora, além de falar “pessoas em situação de vulnerabilidade social” em vez de pobres e “pessoas que chegaram à melhor idade” em vez de velhos, passarei a falar “resíduos” em vez de lixo, porque alguém pode se ofender. Acho justo, ainda mais que o DMLU foi muito prestativo – e também muito, digamos, transformador em minha vida. Veja esta informação, por exemplo: isopor é plástico. Cara, ISOPOR É PLÁSTICO.
Portanto, o isopor da bandeja de carne, que sempre depositei no lixo orgânico porque achava que, mesmo lavando a bandeja, o sangue da carne jamais se desprenderia por completo de todos os poros do isopor, na verdade ele, o isopor, deve ser lavadinho e colocado no lixo reciclável – e, se houver lixeiras específicas para os materiais recicláveis, como há aqui na Zero, o isopor vai para a lixeira dos plásticos. Porque isopor é plástico, como também são plásticas as embalagens de Ouro Branco – meu bombom preferido –, que eu achava que eram de papel.
Na verdade, informou-me o DMLU, os papéis de bala, de chocolate e de bolacha recheada, que loucura!, não são papéis, são plásticos! E eu sempre os depositei na lata de papéis, onde também depositava o lacre do pote de iogurte. Sabe o lacre do pote de iogurte? É DE METAL!!! E o lacre da manteiga também é de metal! Se bem que, ainda conforme o DMLU, não tem problema jogar os lacres de manteiga e de iogurte no lixo orgânico porque “o potencial de reaproveitamento dos lacres é muito pequeno e eles costumam se perder nas esteiras de triagem”.
Um parêntese: agora me dei conta de que estou há dois parágrafos falando lixo em vez de resíduos, peço perdão.
Outra dúvida que me atormentava era se eu deveria lavar os resíduos recicláveis antes de jogá-los fora – muita gente diz que não, que gastar água com isso é uma afronta ao meio ambiente. Só que o DMLU diz assim: “O ideal é descartar as embalagens sem restos orgânicos. Deve-se passar um guardanapo para retirar o excesso ou a água do enxágue das louças”. Admito que nunca estoquei a água do enxágue das louças, mas já estou estudando o assunto.
Como também já estou estudando a maneira mais adequada de abrir as malditas cápsulas de cafeteiras, porque elas são de plástico por fora, mas, por dentro, têm a borra de café, que é um troço orgânico. O correto, segundo o DMLU, é descartar cada parte em uma lixeira (ou seria residueira?). Bem, o certo é que já dormi melhor na noite passada, após jogar na lata dos plásticos aquele papel – que não é papel – do Ouro Branco.
É bom fazer a nossa parte, jogue o lixo no lixo, quer dizer, lixo é errado, jogue os resíduos no... sei lá.
O colunista David Coimbra escreve até o dia 22 na contracapa do caderno ZH Olímpica
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