10 de agosto de 2016 | N° 18604
PAULO GERMANO
A dor de acreditar em ETs
Essa coisa de discos voadores, confesso que me deixa constrangido. Às vezes, alguém me pega assistindo aos vibrantes documentários do History Channel – outro dia, mostraram um rapaz com câncer que foi curado por ETs –, e eu logo me adianto:
– Estava só zapeando...
Tenho vergonha de dizer que acredito em ETs. As pessoas debocham, pensam que o ingênuo é você, vê se pode. Como se fosse muito sensato pensar que apenas nós, os diferentões, teríamos direito à vida nessas 100 bilhões de galáxias tomadas por 70 sextilhões – bote 21 zeros depois do 70 – de planetas que orbitam universo afora. Duvideodó.
Entre as pessoas mais lúcidas, ou seja, as que acreditam em ETs, percebo dois grupos bem definidos. O primeiro mantém traços de ceticismo, argumentando que a vida extraterrena se materializa em criaturas cuja forma e aparência nem sequer conhecemos. Dizem, as pessoas desse grupo, que os alienígenas podem ser como peixes, insetos ou crustáceos de outros planetas.
Ora, assim é muito fácil! Chutar que existe um peixinho lá pelas bandas de Andrômeda, por favor, chega a ser desrespeitoso com o pessoal que vive lá. Portanto, pode-se notar que faço parte do segundo grupo: o das pessoas que acreditam na existência de ETs humanoides.
Acho bem razoável um ET humanoide.
Não se trata, neste caso, da velha prepotência do homem de imaginar tudo à sua semelhança. Sei que já fizemos isso com Deus e, aliás, tenho mais dúvidas sobre a existência de Deus do que sobre a existência de ETs. Resumindo, não é que os alienígenas sejam parecidos conosco, nada disso, a questão é que nós temos uma estrutura física bastante presumível para qualquer ser biologicamente evoluído e dotado de inteligência e raciocínio. Não há surpresa alguma em dois pés, dois braços, dois olhos e tudo mais.
Some-se isso a uma série de estudos e relatos de pessoas contatadas por ETs e, pronto, você chega às diferentes espécies de extraterrestres, sendo a mais famosa a dos greys. Conhece os greys? São aqueles que medem 1m30cm, têm pele acinzentada, enormes olhos negros e cabeça de ovo de Páscoa. Eu levaria fácil um baixinho desses para um chope lá em casa.
Mas a pior parte de acreditar em ETs é quando você conhece um congresso dedicado a ETs. No ano passado, fui ao Fórum Mundial de Contatados, em Porto Alegre, e ouvi relatos sobre um ET loiro que flutuava em uma bolha à beira-mar, sobre um homem que se comunicava com outra galáxia por telepatia, sobre um locutor de rodeios que viajou de disco voador para conhecer um planeta distante e – esta foi a melhor – sobre a reunião que um ex-presidente americano teve com três alienígenas de raças diferentes.
Tudo tem limite.
Ao observar aquela turma, entendi como alguém se sente quando me flagra vendo o History Channel. Lembro de ir tomando o rumo da porta, devagarinho, meio constrangido, repetindo em voz baixa a desconfiada pergunta:
– Credo, como alguém acredita nisso?
O ator e cineasta Marcelo Restori escreveu uma resposta à coluna “A tocha do preconceito”, publicada ontem neste espaço. Leia o texto dele na página 4.
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