quarta-feira, 31 de agosto de 2016


31 de agosto de 2016 | N° 18622
REPORTAGEM ESPECIAL

DECISÃO DO SENADO FICA PARA HOJE

VOTAÇÃO ENCERRA PROCESSO contra Dilma Rousseff e, segundo projeções, deve determinar a cassação da presidente afastada, com a posse definitiva de Michel Temer

No embate final entre acusação e defesa, exposições eloquentes, vozes embargadas, lágrimas e exaustão. Os advogados Janaína Paschoal e José Eduardo Cardozo travaram a última batalha de argumentos, apelando mais para tons emocionais e políticos do que para elementos técnicos-jurídicos. Embora elogiados, os indicativos são de que nada mudou na projeção de placar.

Hoje, a partir das 11h, o Senado deverá aprovar o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. Se o cenário se confirmar, Michel Temer será empossado definitivamente na Presidência até dezembro de 2018. Logo depois, viaja para a China, onde participará de reunião do G-20.

Os advogados abriram a sessão de ontem para as derradeiras alegações. Se Dilma teve momentos de emoção na segunda-feira, Janaína também marejou os olhos. No fecho, embargou a voz e disse que trabalhou pelo impeachment, entre outros motivos, “pelos netos dela (Dilma)”. Numa tentativa de reforçar a tese do “conjunto da obra”, lembrou que a denúncia original continha o escândalo da Petrobras, “que atingiu pessoas muito próximas da presidente”. A advogada ainda acusou Dilma de “estelionato eleitoral” – citando os aumentos de gastos de 2014, ano de eleição – e reafirmou a existência de crime de responsabilidade.

– Não me parece honesto dizer para o povo que existe dinheiro para programas sociais quando eles já não existem – afirmou Janaína, apontando os cortes que ocorreram em 2015, depois das eleições, já com a crise econômica em aprofundamento.

Fiel escudeiro de Dilma, Cardozo fez manifestação contundente, classificada como “brilhante” pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), defensor do impeachment. Entre brados e murros no púlpito, com eloquência, dedicou-se a resgatar a história pessoal de Dilma, desde os tempos em que foi presa e torturada pela ditadura, e afirmou que as acusações contra ela são frágeis. Asseverou que a presidente afastada sofre discriminação por ser mulher.

Para Cardozo, os algozes de Dilma, entre “inconformados com o resultado da eleição de 2014” e “interessados em abafar a Operação Lava-Jato”, deram início à busca por um pretexto qualquer que embasasse o impeachment. Ele apontou o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como o responsável pela instabilidade do Palácio do Planalto.

_ Cunha assume a presidência da Câmara e inicia a desestabilização. Ele diz: “se não tiver votos do PT para arquivar o meu processo, eu abro o impeachment” – discursou Cardozo, recordando que o peemedebista aceitou a denúncia contra Dilma depois de o PT decidir não ajudá-lo a escapar de uma representação por quebra de decoro no Conselho de Ética.

NA TRIBUNA, SENADORES DEFENDEM SEUS VOTOS

Terminada a exposição, o ex-ministro falou à imprensa e não escondeu o desconforto com a citação de Janaína aos netos de Dilma, o que julgou desrespeitosa. Exausto, imerso desde a quinta-feira no julgamento final do Senado, foi às lágrimas e cruzou os corredores do Senado amparado por parlamentares aliados.

A partir da tarde, os senadores inscritos tiveram 10 minutos cada para discursar. Até às 0h50min de hoje, 53 de 62 inscritos haviam se manifestado.

– Duvido que um só de nós esteja convencido de que a presidente cometeu crimes. Não são as pedaladas que a excomungam. (...) Este Senado está prestes a repetir e ignomínia de março de 64. Se mesmo sem culpa esta Casa condenar a presidente, que cada um esteja consciente do que está por vir – avisou Roberto Requião (PMDB-PR).

A maioria dos discursos foram pró- cassação. Ainda que o governo Temer tivesse interesse em agilizar a sessão, poucos foram os senadores que deixaram de usar a tribuna no momento histórico.

– Este governo é um fracasso eticamente, politicamente e administrativamente. Tem de ser substituído por esse impeachment que atende aos pressupostos indispensáveis – registrou Álvaro Dias (PV-PR).

carlos.rollsing@zerohora.com.br fabio.schaffner@zerohora.com.br 

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