sábado, 20 de agosto de 2016



20 de agosto de 2016 | N° 18613 
MARTHA MEDEIROS

Vida dura comparada com a de quem?

Há mil jeitos de aliviar a dor dos outros. Ficamos com a parte mais fácil, tenha certeza


Vamos supor que a mesa da sua cozinha tenha sido atacada por cupins, que você esteja de relações cortadas com sua mãe, que venha sofrendo uma dor-de-cotovelo daquelas, que tenha engordado durante o inverno, que esteja estremecida com uma amiga com posição política oposta à sua, que tenham batido no seu carro estacionado e não deixaram nem um bilhete no para-brisa. Continue supondo: fez as contas e não vai dar para viajar no fim do ano, seu filho admitiu que fuma maconha, e seu patrão encasquetou que você está fazendo corpo mole no trabalho, mas a única coisa mole é seu tríceps.

Sem falar que anda frio, que sair à noite anda perigoso e você andou se estressando com comentários deixados nas redes sociais. O peixe que comeu no almoço estava estragado, e sua prima perdeu o livro que você emprestou. Convidaram você para um casamento, e você não tem roupa. Um maluco caçando pokémons pisou em cima do seu yorkshire. Será porque é agosto?

Pode nada disso estar acontecendo com você, mas certamente você tem sua lista de queixas. Todos nós temos. Mas queixas comparadas com o quê?

Passei uma tarde na Kinder, uma entidade que reposiciona nossos valores. Há mais de 25 anos, oferece educação especial e reabilitação a 300 crianças e adolescentes carentes com sérios comprometimentos neurológicos e físicos. Emprega cerca de 50 profissionais, entre pedagogos, fisioterapeutas, educadores. Mantém uma sede ampla, limpa e bem equipada – tudo mantido com doações privadas e repasses públicos. 

O que acontece lá dentro é um milagre. Cada funcionário trabalha com um baita sorriso no rosto, como se estivesse na Disney. Atendem meninos e meninas com deficiências de moderadas a graves (não há caso leve por lá) e se sentem orgulhosos e plenamente gratificados por fazer diferença na vida de quem nasceu em total desvantagem em relação a nós. Desvantagens como não conseguir falar, não conseguir ficar em pé sozinho, não ter articulação motora.

Quem começou tudo isso foi, de certa forma, uma refugiada. Barbara Fischinger chegou novinha aqui no sul, vinda da Alemanha, e não poupou esforços até realizar seu sonho de viabilizar um projeto de assistência aos que têm comprometimentos múltiplos. O que ela fez e ainda faz é de uma importância que até nos deixa acanhados, nós que nos julgamos especiais sei lá por quê. 

Especiais são aqueles que se dedicam a projetos de inclusão social e o fazem com amor e entrega ilimitada. A nós, resta colaborar. Podendo, entre no site kinder.org.br. Há mil jeitos de aliviar a dor dos outros. Vamos dar uma mão para que esse pessoal prossiga com o que começou. Ficamos com a parte mais fácil, tenha certeza.

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