sexta-feira, 26 de agosto de 2016


26 de agosto de 2016 | N° 18618 
MÁRIO CORSO

Bacon clandestino


Houve um aumento expressivo nas apreensões de bacon. Talvez só comparado ao pico de consumo dos anos 2047 a 2049, ainda na primeira década da proibição da carne, diz com preocupação o secretário nacional de combate ao colesterol. A questão não é só essa, emenda ele, as pesquisas indicam que o bacon é a porta de entrada para o consumo de outras fontes proteicas animais mais perigosas, como salame, presunto, paio, copa, linguiça, ou coisas ainda piores, como a morcilha e a costelinha defumada.

O Departamento de Polícia Vegetariana afirma tratar-se de contrabando, provavelmente do Uruguai. O país vizinho foi um dos últimos do planeta a aderir ao Pacto Verde, proposta da ONU que proíbe o uso de animais para consumo humano e lançou as bases da Novalimentação.

O Uruguai, junto com a Argentina, resistiu à medida e ambos sofreram anos de embargo comercial. Foram dobrados pela falência de suas economias. Porém, hoje fazem vista grossa às fazendas clandestinas que criam e assassinam animais para consumo. O pampa é muito vasto para ser totalmente perscrutado pelos batalhões do Exército Vegano da ONU, os chamados capacetes verdes. Nem com a ajuda da Brigada Internacional dos Veterinários Budistas, conseguiram sucesso.

Hábitos culturais locais, os antigos e primitivos rituais de churrasco, eram muito populares nesses países, o que dificulta a implementação da alimentação sem sofrimento animal. Infelizmente, é lenta a erradicação das formas arcaicas de sacrifício. O mais lamentável é que criou-se uma oposição política carnívora, fazendo desse consumo uma resistência ao governo e à Novalimentação. Sem dúvida, isso está atrapalhando os planos do Mundo sem Doença, como imaginado pelos Médicos Veganos sem Fronteiras, que já conseguiram a supressão do sal e do açúcar do nosso cardápio.

O fato é que nossas autoridades devem admitir que os carnívoros seguem agindo e que nossa legislação é leniente contra essas transgressões. Contrabandistas enriquecem e corrompem agentes da lei, inclusive com o próprio produto. A Agência de Vigilância Antiespecista Secreta descobriu que um quilo de pernil ou uma manta de charque abre qualquer porta. Por sorte, existe um projeto no Senado para aumentar as multas para o tráfico e consumo de carne e transformá-lo em crime inafiançável.

Para piorar, acrescenta o secretário, existe a suspeita de que esses cadáveres sejam servidos inclusive para crianças, que muitas vezes ingerem sem saber o que estão consumindo. Cria-se a figura do carnívoro passivo, pessoas que estão sob o mesmo teto ou tutela do carnívoro. Esses incautos comem, por exemplo, uma aparentemente inofensiva sopa sem saber o que realmente está oculto entre os ingredientes. Definitivamente, o calendário do projeto de um planeta sem males está atrasado.

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