quinta-feira, 18 de agosto de 2016


18 de agosto de 2016 | N° 18611 
PAULO GERMANO

Os deputados debatendo


Vieram ontem à Redação de Zero Hora os deputados Marcel Van Hattem, do PP, e Juliano Roso, do PC do B. Van Hattem é autor do projeto Escola sem Partido, que pretende proibir a “doutrinação ideológica” em sala de aula. Roso é autor do projeto Escola sem Mordaça, que pretende proibir a existência do Escola sem Partido.

Em relação ao Escola sem Partido, já escrevi que sou contra. Quanto ao Escola sem Mordaça, não sei como alguém pode ser a favor de um projeto que não serve para absolutamente nada. Mas o importante é que os deputados estavam na Redação para debater ao vivo, na página de ZH no Facebook, este tema que ganhou mais importância do que a tabuada: a interferência dos professores na visão política dos alunos.

Fui para a frente do computador. No início da conversa, mediada pelo repórter Eduardo Rosa, chamou-me a atenção o fato de os dois defenderem a mesma coisa. Roso saiu-se assim:

– O que precisamos em sala de aula é de liberdade, democracia, pluralismo e debates, de forma que o professor e o aluno possam discutir os temas, inclusive divergindo.

Está certo, é verdade, só há debate se houver divergência. Van Hattem prosseguiu:

– Quando o professor emite uma opinião, não pode fazer com que os alunos acreditem que aquela é a única opinião válida. Pelo contrário, deve estimular o debate.

Verdade, verdade, debate é bom.

– Vamos criar um clima para que o aluno e o professor possam, juntos, encontrar a boa educação e o bom diálogo – acrescentou Roso, e novamente achei bom, gosto disso, queremos debate e diálogo, isso mesmo.

Mas por que os dois discordavam? Bem, Marcel Van Hattem entendia que haverá mais debate se o Escola sem Partido for aprovado. E Juliano Roso entendia que haverá mais debate se o projeto for rejeitado. Lá pelas tantas, o primeiro deu uma chapuletada no segundo:

– Reduzir doutrinações em aula a uma questão estrutural, faça-me o favor, é um deboche.

– Quem debocha dos professores é o deputado Marcel – devolveu Roso. – Nós podemos, em outro momento, debater qualquer assunto: socialismo, comunismo, atropelamento seguido de morte.

Atropelamento seguido de morte? Mas o que tem a ver com...

– O senhor é um covarde – Van Hattem ficou brabo. – O senhor é um covarde.

– Se não mantiver o nível do debate, serei obrigado a deixar esta discussão – ameaçou Roso.

– Este deputado comunista é um covarde. Ele vem aqui, traz uma acusação pessoal e...

– O senhor gosta de debater sozinho, deputado Marcel. O senhor acha que é o dono da verdade.

– É uma vergonha o que está acontecendo aqui!

– É uma vergonha o senhor não me deixar falar!

Pobre do Eduardo Rosa, tentando acalmar os dois deputados, mas a dupla estava furibunda. Van Hattem pediu para se defender:

– Sofri um acidente em 2006 e, infelizmente, uma pessoa veio a falecer. Sim, foi um atropelamento. Não tive culpa e, lamentavelmente, quase 10 anos mais tarde, depois de ser deputado estadual, essa discussão ressurgiu para me atacarem pessoalmente.

E Van Hattem tirou o microfone da lapela, falou que aquilo era um desrespeito, que era coisa de comunista, que a discussão estava encerrada e foi embora. Roso ficou dizendo que o colega era “uma pessoa mal-educada”.

Fiquei impressionado em ver como deputados que pregam “mais debate” em sala de aula não conseguiram debater por 15 minutos. Que coisa séria. Talvez devessem voltar para a escola.

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