quarta-feira, 11 de abril de 2012



11 de abril de 2012 | N° 17036
DIANA CORSO


Adultos vorazes

Crianças, no futuro toda essa selva será sua! Não parece atraente, mas é o patrimônio que temos a oferecer aos jovens. O lado de fora do lar é sempre a perigosa floresta, já alertavam os contos de fadas. A vida social é uma arena, e os jovens são como gladiadores, cuja vida e prestígio pedem um sacrifício à sociedade do espetáculo.

Esses elementos encontraram uma ótima síntese em Jogos Vorazes, primeiro volume da trilogia juvenil de Suzanne Collins (Ed. Rocco), agora no cinema. O livro reatualiza o mito do Minotauro, colocando jovens a serem entregues à morte, como tributos. Desta vez, são sacrificados a outro tipo de monstro: a voracidade do público de um reality show.

Na maior parte do Ocidente vivemos num clima democrático e escarnecemos das primitivas ditaduras remanescentes. É fato, mas os jovens e suas fantasias prediletas insistem no tema do totalitarismo: os magos perversos de Tolkien, os Comensais da Morte de Harry Potter, a repressão em V de Vingança, entre tantos outros. Aqui isso se repete, por que será?

Nessa série, em um mundo distópico, um poder central, situado na “Capital”, submete 12 distritos à miséria e controle absolutos. Uma rebelião ocorrida no passado é lembrada anualmente com uma punição exemplar: cada um dos distritos deve oferecer dois jovens (um casal) todo ano para disputar uma luta terminal, que ocorre numa floresta, da qual somente um dos 24 pode sair vivo.

Claro, câmeras espalhadas mostram a carnificina em detalhes. Um deles, Katniss, a personagem principal, vai construir sua trajetória heroica em confronto com o poder da Capital. Ela já era uma caçadora clandestina, independente, mas responsável. Nos jogos, torna-se guerreira.

Os jovens cultivam essas histórias porque não se deixam enganar pela paz aparente. A luta por poder e prestígio, a fogueira das vaidades, segue fazendo vítimas. Não há lugar no mundo para todos e nessa dança das cadeiras sobram muitos de pé, eliminados. Mesmo sem guerras para mandá-los, das quais voltarão vitoriosos ou mortos, eles continuam sendo selecionados. Por isso crescem armados, desconfiados e preparados para a vida na selva.

Hoje como ontem, não lhes perdoamos o viço que os mais velhos já perdemos, a necessidade que eles têm de revolta, a independência que precisa nos derrubar. Como pais, exigimos tributos pelo que lhes demos, reverência às nossas conquistas e crenças.

No fundo, adultos sempre serão totalitários, crescer sempre será uma guerra e o mundo uma selva. Nossa parentalidade culposa, gaguejante e omissa não os engana. O adulto é o lobo do jovem.

Nenhum comentário: