quarta-feira, 11 de abril de 2012



11 de abril de 2012 | N° 17036
ARTIGOS - Waldir L. Roque*


Ciência sem Fronteiras

Ciência sem Fronteiras, programa recém criado pelo governo federal, visa estimular nos universitários o interesse pela ciência e pesquisa, concedendo bolsas de estudo em universidades de excelência no Exterior. Como proposta, o Ciência sem Fronteiras parece útil, mas é importante chamar a atenção para alguns fatos.

Ao regressar de uma visita curta a uma universidade de excelência, além de o estudante de graduação não ter obtido uma formação muito superior à oferecida no Brasil, ele verá o grande contraste nas condições de trabalho, ensino e pesquisa entre a instituição estrangeira e a brasileira, o que pode ser desestimulante e até levá-lo a retornar à instituição no Exterior.

Neste caso, a perda será muito maior, pois o estudante que vai para o Exterior, após um curso de graduação ou pós-graduação no Brasil, representa custo zero para o país que o absorve, além de ingressar no mercado de trabalho na sua fase mais produtiva.

O estímulo aos estudantes brasileiros passa por boas condições de ensino e pela infraestrutura disponível nas instituições brasileiras, mas aqui encontramos muitas barreiras. As universidades públicas não oferecem boas condições de trabalho aos docentes, incluídas aí questões salariais e da carreira docente.

O custo do Ciência sem Fronteiras está estimado em R$ 3,6 bilhões para quatro anos, enquanto o recurso do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação foi reduzido em 22% nos últimos dois anos – um corte de R$ 2,6 bilhões.

Os Estados Unidos, mesmo em crise, aumentaram em 2,5% o orçamento da Fundação Nacional de Ciências, órgão equivalente ao CNPq, e a China, um dos países do Brics, ampliou o orçamento em 12,4%. Os cortes brasileiros representam mais uma barreira para o desenvolvimento científico/tecnológico do país.

A pesquisa no Brasil é essencialmente realizada nos programas de pós-graduação das universidades públicas, mas esses ainda são herméticos e endógenos. A língua portuguesa é uma barreira natural para atrair estrangeiros a cursarem aqui mestrado e/ou doutorado e ingressarem no mercado de trabalho brasileiro. Tal barreira poderia ser minimizada possibilitando-se a oferta de cursos e a apresentação de dissertações e teses em inglês.

São inúmeras as barreiras a serem eliminadas antes de termos, de fato, um Ciência sem Fronteiras capaz de promover o desenvolvimento pleno da ciência, tecnologia e inovação do país.

*PROFESSOR DO INSTITUTO DE MATEMÁTICA DA UFRGS

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