terça-feira, 10 de abril de 2012



10 de abril de 2012 | N° 17035
DAVID COIMBRA


Quem é Mozart e quem é Michel Teló

Chico e Caetano são Pelé e Garrincha. Os melhores entre os melhores. Com Pelé e Garrincha juntos a Seleção jogou 50 vezes e não perdeu nenhuma.

Chico e Caetano, juntos ou apartados, não fazem música ruim, sai no mínimo boa, às vezes antológica, como Quereres ou Anos Dourados. Pelé e Garrincha eram gênios da bola, Chico e Caetano são gênios da Música Popular Brasileira.

Sei que o adjetivo “gênio” é empregado com demasiada prodigalidade, hoje em dia. Não quero incorrer neste erro. O que define um homem como gênio? Suponho que o gênio deva ser muito superior às outras pessoas em determinada área de atividade humana, e que suas realizações sejam proporcionais à sua superioridade. Sobretudo, a ação do gênio não pode se restringir ao seu tempo. O gênio produz façanhas que varam os séculos, que ficam para sempre. O gênio é eterno.

Beethoven, Mozart e Bach foram gênios da música em todos os tempos. Os Beatles foram gênios da Música Popular. Mas definir gênios da música é mais fácil, porque todos “sentem” a música, ainda que a música não seja requintada e elaborada como uma sinfonia, ainda que seja singela como a música popular.

Definir gênios em outras áreas é mais complexo e mais sutil. Einstein, Newton e Galileu foram gênios da ciência, mas sei que há outros além deles. Picasso, Van Gogh, Michelangelo e Leonardo foram gênios das artes plásticas, possivelmente na companhia de Monet e Goya.

Sócrates, Platão, Kant, Schopenhauer e Freud foram gênios da filosofia, e aí não coloco Nietzsche, nem Rousseau, nem Aristóteles, que são menores, embora tenham sido grandes. Alexandre foi o maior gênio militar do Ocidente. No Oriente, ombreia-se a ele Gengis Khan, e ninguém mais.

Julio Cesar e Napoleão não foram gênios militares; foram gênios da política. Dostoievski foi talvez o maior gênio da literatura, acossado por Proust, Kafka, Cervantes e Shakespeare. Incluo aí duas preferências pessoais, ambos americanos: Edmund Wilson e Mencken.

O Brasil jamais concebeu um gênio na literatura. Machado de Assis não é nem supercraque, é craque. É assim um Ronaldo Nazário, bem distante de Pelé e Dostoievski, distante até de um Rivellino, de um Zico, de um Romário. Gênios, no Brasil, só Pelé e Garrincha. Supercraques, no Brasil, foram Rivellino, Leônidas, Zizinho, Friedenreich, Zico, Romário e Ronaldinho. Sim, Ronaldinho é supercraque, ou foi, e foi maior do que Falcão e Renato, que eram grandes craques.

Neymar é craque, isso é certo. Mas já estou achando que, aos 20 anos de idade, ele se aproxima da categoria de supercraque. Se o time do Santos fosse melhor, se Ganso não tivesse se lesionado, Neymar estaria empossado e coroado como supercraque.

Messi talvez seja supercraque. O curioso é que o Barcelona, o melhor time do século, é um time com apenas três craques, Messi, Xavi e Iniesta. Trata-se de uma nova concepção de supertime. Não é um supertime; é uma superequipe.

Gostaria de ver Neymar nesse time. Porque considero Neymar MELHOR do que Messi, Xavi e Iniesta, apesar de ser diferente deles. Neymar tem a facilidade de burlar o adversário, de passar por ele como se ele fosse um criança, de humilhar o zagueiro sempre e sempre, Neymar tem essa habilidade que ninguém no mundo hoje tem.

Isso é espantoso: Neymar está um degrau abaixo de Messi em grandeza, mas tem mais potencial, tem mais futebol em estado bruto, pronto para ser lapidado, já em processo de lapidação.

O que faria Neymar, se estivesse em companhia de Xavi, Iniesta e Messi? Seria como Caetano, Chico e Tom Jobim compondo juntos, ou Beethoven, Mozart e Bach escrevendo uma sinfonia, ou Freud e Schopenhauer requintando um texto, ou Pelé e Garrincha aos 25 anos de idade, na mesma Seleção. Neymar tem os instrumentos para fazer história, para entrar para a História. Para ser um dos gênios eternos da bola.

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