quinta-feira, 5 de abril de 2012



05 de abril de 2012 | N° 17030
PAULO SANT’ANA


Saudosa maloca

Dois dias antes de se inaugurar a Arena do Grêmio, em dezembro próximo, vou pedir que se realize um último jogo no Olímpico.

E que toda a torcida gremista que lotará o Olímpico cante comigo: “Saudosa maloca/ maloca querida/ dim dim donde nóis passemo/ dias feliz de nossa vida (bis)”.

E depois, quando a OAS já tiver construído, sobre o terreno do Olímpico que lhe coube na troca, os novos edifícios, então voltaremos nós, gremistas, até o entorno das edificações e cantaremos novamente juntos:

“Se o senhor não tá lembrado/ dá licença de contá/ que aqui onde agora está/ esse adifício arto/ era um estádio velho/ um pavilhão assobradado/ foi aí, seu moço/ que eu, Portaluppi e o Joca/ construímos nossa maloca/ mas um dia, eu não quero me alembrá/ veio os home com as ferramenta/ que a OAS mandou derrubá/ peguemo todas nossas coisa/ e fumo pro meio da rua/ apreciá a dimolição/ que tristeza/ que nóis sentia/ cada tauba que caía/ doía no coração/

Portaluppi quis gritar/ mas em cima eu falei/ os home tá com a razão/ nóis arranja outro lugar/ só se conformemo/ quando o Joca falou/ Deus dá o frio/ conforme o cobertor/ nóis arranja outro lugar/ saímos logo daqui/ e vamos seguir nosso destino/ pras bandas do Humaitá”.

Fora de brincadeira, sobre os edifícios novos que a OAS erguerá no terreno que pertencia ao Olímpico, rondarão os fantasmas das grandes recordações.

Como, por exemplo, daquela puxeta que o Renato deu quando estava 1 a 1 contra o Peñarol, porque o gramado estava encharcado, mandando um balão para a área, o César cabeceou para as redes e tornou o Grêmio pela primeira vez campeão da América.

Rondarão os edifícios novos da OAS os fantasmas daquele gol do André Catimba num Gre-Nal, decretando o título gaúcho de 1977. Depois do que, o Catimba deu um salto mortal comemorativo na linha que está guardado para sempre em nossas retinas.

Rondará permanentemente os edifícios novos da OAS o fantasma de um negro que assistia aos jogos no canto da arquibancada social. Eu o via ali em todos os jogos – ele, que podia assistir das cadeiras cativas mas preferia o lugar mais modesto. Falo de um negro que tinha se tornado gremista no tempo em que era proibido aos negros serem gremistas, falo de Lupicinio Rodrigues, o autor do hino gremista.

Nunca vou me esquecer que ele assistia sozinho e calado aos jogos do Grêmio no Olímpico.

O fantasma dele vai rondar o conjunto de edifícios que vão erguer onde se erguia o Olímpico, na louca fúria imobiliária.

O fantasma de Osvaldo Rolla vai rondar as escadarias do pavilhão social do Olímpico. Ali naqueles degraus o Foguinho costumava obrigar os jogadores, nos treinos, a subi-los, exercício artesanal que ele bolou intuitivamente para prepará-los fisicamente.

Rondarão os edifícios da OAS os fantasmas de todos os heróis, Airton Ferreira da Silva, Ortunho, Elton e Milton, Germinaro, Gessi, Juarez, Alcindo, Vieira, Renato Portaluppi, o fantasma renegado do Ronaldinho Gaúcho, Froner, Engelke, o fantasma humilde do Tio Bitenca, o fantasma insuperável de Rudi Armin Petry, ao lado de seu tutor, Fernando Kroeff.

Rondarão o fenomenal conjunto de edifícios da OAS na Azenha os milhões de gremistas de todas as gerações que fizeram do clube tricolor a sua razão suprema de existir.

Saudosa maloca!

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