Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
4/12/2009 e 25/12/2009 | N° 16196
LETICIA WIERZCHOWSKI
Meu papai nem tão noel
Eu já disse que meu avô polonês foi o primeiro personagem que conheci. Pois, meu pai foi o segundo. Um sujeito engraçado, bon vivant, feito para tempos em que não existia o politicamente correto e seu exaustivo manual de comportamento, eu poderia dedicar várias crônicas ao pai e suas histórias, porém temo que ele viria a público, todo sério, negá-las uma a uma. Mas vou contar aqui uma história do “meu velho”.
Às vésperas de um natal, festa que meu pai adora, saímos para comprar uma árvore.
Naquele tempo, vendiam-se pinheiros de verdade nas esquinas de Porto Alegre. Ainda não se falava em aquecimento global (porém, prescindíamos do uso de sacolas plásticas). No banco traseiro do carro, minhas duas irmãs e eu vibrávamos, e o pai guiava cantando músicas natalinas – ele sempre foi muito bom em “criar um clima”. Chegamos, enfim, na esquina onde exibiam os mais bonitos pinheiros.
O pai estacionou e deixou-nos no carro (além das sacolas plásticas, vivíamos também sem assaltos). O pai voltou, alguns minutos mais tarde, seguido por um prestimoso vendedor que carregava um enorme pinheiro, e a quem ele cumprimentou com rara seriedade, agradecendo o “presente”. Depois de alguns salamaleques, o tal voltou para sua floresta decepada. E nós seguimos para casa com a nossa árvore sem entender aquela conversinha estranha.
A mãe recebeu-nos alegremente e pousou seus olhos sobre o enorme pinheiro que vicejava no meio da nossa sala. O pai sorria do seu butim, e a mãe quis saber: “Quanto pagaste por ela?”. A resposta paterna nos desconcertou: “Nada, nadinha”, disse ele, sorrindo meio sem jeito. “Eu falei que era fiscal do Ibama, e ele me deu a árvore correndo. Vai ver, não tinha licença. Fiquei com vergonha de desmentir minha brincadeira.”
A mãe zangou-se; frequentemente, tinha ela de educar as três meninas e o marido pela mesma régua. Vimos o pai capitular perante os justos argumentos maternos, levando nosso colossal pinheiro de volta para o carro. Meia hora depois, voltou com um pinheiro que poderia ser filho do anterior. Naquele ano, tivemos que nos contentar com aquela singela árvore.
E o pai? O pai seguiu em frente, ora ouvindo os conselhos da nossa mãe, ora trilhando a vida do seu jeito. Aquele pinheirinho há muito que secou: virou lenha, adubo e depois nada.
Mas o Cecílio segue fagueiro, enfileirando natais e boas histórias. Uma parte dele é um senhor de mui distintos cabelos grisalhos, a outra é um garotinho indócil que viveu sua segunda infância junto conosco. Curtindo sua terceira meninice ao lado dos netos, ele agora enfeita sua árvore de plástico.
Feliz Natal - Que o Papai Noel seja generoso com vc realizando todos os seus desejos.
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