terça-feira, 15 de dezembro de 2009



15 de dezembro de 2009 | N° 16186
PAULO SANT’ANA


Não há mais refúgios

Nunca mais ouvi alguém dizer que pretende sair do Interior e vir morar na Capital e o contrário também não vejo. Antigamente, sempre que uma pessoa se sentia fatigada do trânsito da cidade grande ou com medo de assaltos, sonhava comprar um sítio no Interior e lá descansar e refugiar-se dos atropelos da cidade.

Agora não, parece que as pessoas ganharam consciência de que não existe mais refúgio em lugar algum, todos os quadrantes são infernais, já não existem mais paragens seguras e tranquilas, nem a Capital é tranquila, nem o Interior é seguro.

Na semana passada, me chamou a atenção o caso de um proprietário rural que estava, nove horas da noite, esperando sua mulher lhe trazer o chimarrão na varanda da sua casa de campo, onde lavrava e criava bois. Isso foi no município de Pirapó, lá pelas bandas de São Luiz Gonzaga.

Quando, de repente, surgiram das sombras da noite três assaltantes. O fazendeiro, que sempre deixava numa cadeira ao lado um revólver à mão, descarregou a arma contra dois dos assaltantes, matando-os com tiro no peito e na cabeça.

Mas, acabada a munição, o terceiro assaltante matou o proprietário rural na varanda da sua casa. E ainda foi roubar a mulher e a sobrinha do fazendeiro, que restaram desprotegidas na casa.

Esse relato descrito em Zero Hora dá bem a ideia de quanto a paisagem rural do Estado se modificou nas últimas décadas: os roubos por assaltos se disseminaram pelo campo, não deixando mais ninguém viver em paz em lugar algum, por mais longínquos possam ser os lugares ermos e perdidos do nosso pampa.

Aqui na Capital também nos atormenta a segurança pública, ninguém mais sai à noite, às vezes de dia, sem estar livre de ataque dos assaltantes.

Mas, tirando fora a segurança, outros males nos afligem aqui na Capital, a evitar que os interioranos sonhem em se mudar para cá, o que historicamente aconteceu.

Vejam o caso dos engarrafamentos em Porto Alegre. Conversem com um motorista de táxi aqui na Capital e ele lhes consolará: não é só você que é vítima dos engarrafamentos do trânsito, por toda parte que se vá em toda a geografia porto-alegrense, impossível fugir das filas demoradas de carros em praticamente todas as avenidas.

Engarrafa-se dramaticamente a Avenida Independência, a rota paralela a ela, a Protásio Alves, que também é paralela à Nilo Peçanha, mostra-se toda engarrafada.

Na Ceará, o trânsito engarrafa; na Sertório, o trânsito engarrafa; na Assis Brasil, nem se fala, ali é um ponto dramático do fluxo da cidade e milhares de motoristas e de passageiros levam mais de hora e meia para transpor percursos que antes demandavam 30 minutos.

O porto-alegrense já está se acostumando a sair de casa de 30 a 50 minutos antes se quiser chegar em tempo ao seu destino.

Tudo engarrafado.

Sem metrô, o engarrafamento ficou democratizado: ele irrita e incomoda tanto os motoristas quanto os passageiros de coletivos e taxistas e passageiros de táxi. Neste último caso, os passageiros de táxi pagam caro pelo engarrafamento: mesmo sem avançar, os taxímetros seguem correndo e cobrando caro dos engarrafados.

Gasta-se com combustível o dobro de que se gastaria se o fluxo fosse livre e estuante.

Como não há solução para o transporte de massa e também para mudança do traçado de Porto Alegre, podemos dizer que definitivamente teremos de enfrentar nos próximos anos um supliciante engarrafamento de nossas artérias.

E não adianta nem sonhar em ir morar no campo, no Interior: lá os assaltantes atacam na calada da noite os moradores de qualquer zona rural.

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