quinta-feira, 17 de dezembro de 2009



17 de dezembro de 2009 | N° 16189
RICARDO SILVESTRIN


Noite proveitosa

Alguma coisa melhorou no Brasil. Não está na estatística. Não foi medida. Não faz parte do discurso dos governos. Ninguém chamou pra si a responsabilidade pela melhora, querendo ganhar voto, aplauso, até dinheiro quem sabe.

Segundo o professor de literatura, tradutor e poeta paulista Carlos Felipe Moisés, um homem de 67 anos, que escreve muito bem, a qualidade da poesia brasileira está cada vez melhor. Foi essa a sua fala no encontro de que participei, na semana passada, em São Paulo.

Era o lançamento do livro O Que é Poesia?, um conjunto de depoimentos de 45 poetas contemporâneos que responderam a três perguntas feitas pelo organizador da publicação, o poeta e editor Édison Cruz, baiano de Ilhéus que vive em Sampa.

Na mesa, sem mesa porque eram só cadeiras, estávamos eu e mais os poetas Nicolas Behr, mato-grossense que vive em Brasília, o mineiro Affonso Romano de Sant’Anna, os cariocas Carlito Azevedo e Márcio André, a professora de semiótica da USP Lúcia Santaella Braga, Édson, o organizador, e Carlos Felipe Moisés.

Esse último leu um texto que havia preparado. O conteúdo dizia que estamos vivendo um grande momento da poesia brasileira. Há várias publicações, revistas, encontros, sites, mas, sobretudo, na visão dele, há cada vez menos poetas despreparados, sem formação literária, sem repertório de leituras.

É claro, isso no recorte dos poetas que acabam se destacando de alguma maneira. Nesse grupo, Carlos Felipe vê uma quantidade maior de talentos e de informação em relação a períodos anteriores que ele presenciou na sua trajetória.

Coloca que, após quase um século de poesia moderna, de poesia concreta e outras correntes, o saldo é um caldo de cultura que está trazendo à luz uma criação promissora.

Temos hoje já uma tradição literária interessante na nossa poesia. Quem começa a escrever dialoga com ela, seja para continuá-la ou para romper, acrescentar, redirecionar.

Concordo com Carlos Felipe quanto a haver um repertório disponível, uma discussão avançada, um conjunto importante de poetas criativos durante o século 20 que servem de estímulo e de parâmetro.

Se essa competência técnica está gerando uma poesia realmente nova, cheia de insights que valham a leitura é outra questão. Mas essa peneira é estreita mesmo.

É preciso haver um grande conjunto de autores para nele aparecer um ou dois que marcam a cada vinte ou trinta anos. Um desses autores que estão honrando a sua geração é o próprio Carlos Felipe Moisés. Leiam o seu livro Noite Nula, editora Nankin, e depois me digam se não estou certo.

Nenhum comentário: